domingo, 16 de julho de 2017

Caminhos da Franqueira e das fragas e levadas do Calvo e do Deva

De regresso de uma "semana galega", descrita nos artigos anteriores, um amigo, vindo dos bancos do velhinho Liceu Passos Manuel, de origem galega, tinha-nos convidado para um fim de semana em terras do concelho de A Cañiza, paredes meias com o nosso Minho.
Regresso da "Missão Proteus",
Serra d'Aire, 15.11.1970
Embora nos últimos anos nos tenhamos encontrado ... quase 47 anos separam as duas fotos à direita! O Adelino acompanhou-me nas primeiras "aventuras" nas entranhas da terra, nos "anos loucos" da Espeleologia, quando comecei a minha vida por fragas e pragas.
E assim, vindos de Santiago de Compostela e tendo passado pelo "meu" Pico Sacro, pouco antes das cinco da tarde de um sábado bastante quente estávamos no lugar de Os Carris, junto da aldeia de Randufe e não muito distante de A Cañiza. Ao fundo, a sul, já se percebia o vale do Minho e terras portuguesas.
A proposta de fim de semana tinha nascido do PR-G 165, nas encostas da serra da Paradanta, cujas águas correm para o grande rio Minho. Mas, naquele fim de tarde, havia outro local nas proximidades que justificava uma primeira caminhada.
A Franqueira, 15.07.2017
A Virgem d'A Franqueira é uma das imagens marianas mais veneradas da Galiza. Terá sido encontrada por uma aldeã entre as pedras do monte, onde a teriam escondido quando da invasão sarracena. A imagem foi então carregada num carro puxado por bois de olhos vendados; no primeiro lugar onde os animais se detivessem a beber ... seria construído o Santuário.
Caminhos da Serra da Paradanta. Ao fundo, a Serra da Peneda
Ao longo da serra, existem diversos caminhos para chegar à Franqueira. A partir de Os Carris, subimos a encosta sudeste, com o vale do Minho e Portugal cada vez mais à vista. Do alto, via-se Melgaço e o cume da Pedrada, vértice da nossa Serra da Peneda. Para norte, deixámos o alto de Montouto e as suas enigmáticas três cruzes - que as populações dizem sempre ali terem existido - e descemos para sudoeste, rumo à Franqueira. No Coto da Vella, a 940 metros de altitude, ergue-se mais uma cruz, que assinala o local onde a imagem terá sido encontrada.

Melgaço e a Serra da Peneda, para lá do vale do Minho
As três cruzes do Alto do Montouto (949m alt.)
Santuário de Santa María da Franqueira


São nítidas as relações entre a devoção à Virgem da Franqueira
e os Caminhos de Santiago
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A Rainha Dª Urraca e, mais tarde, a Rainha Santa Isabel, terão percorrido estes caminhos ... que também são, ou foram ... Caminhos de Santiago.

E domingo era o dia da caminhada maior: o PR-G 165, as fragas e levadas dos rios Calvo e Deva. O primeiro é afluente do segundo, que por sua vez corre para a margem direita do Minho. É impressionante a quantidade de água que toda a região possui, uma riqueza infelizmente cada vez menor e bem problemática em muitas outras zonas.
Levámos o carro para a aldeia de A Lameira ... e começámos a percorrer um mundo de verde e de águas cristalinas e abundantes. Pelo lugar de As Poldras descemos à margem direita do Deva, com alguns restos de velhos moinhos ainda a testemunharem tempos passados, como o Moinho de Entre as Viñas, na confluência dos dois rios, o de Sampaio e o da Fraga.


Por entre a magia das fragas (que em galego significa bosques)
do Deva, entre As Poldras e A Balsada
Moinho de Sampaio, rio Deva:
memórias perdidas no tempo...
Fragas do Deva ... uma sucessão de imagens num paraíso de verde e cristal
Agora por caminhos rurais e passando A Balsada e O Feirón, ao meio dia estávamos junto à Igreja de Parada de Achas ... cujo patrono é Santiago. Para o cemitério de Parada de Achas vinham os mortos da maioria das aldeias vizinhas, trazidos a pé pelos caminhos tortuosos destes vales escarpados; o caminho que nos leva às fragas do rio Calvo chama-se, por isso ... o Caminho dos Defuntos.


Igreja de Parada de Achas ...
dedicada ao Apóstolo Santiago...   
Camiño dos Defuntos e Fragas do Calvo ... não há palavras para descrever a beleza e o mistério destes recantos!
Cruzamos o Calvo e, na margem esquerda, chegamos ao Caminho da Rainha, assim chamada por se tratar do percurso seguido pela rainha Dª Urraca desde terras de Castela até ao Mosteiro da Franqueira. À esquerda deixámos aliás uma variante do PR-G 165, que nos poderia levar ao já citado Coto da Vella, onde terá sido encontrada a imagem da Virgem da Franqueira. Deixando a fraga, a panorâmica abre-se agora sobre o vale, com as serranias de Melgaço e da Peneda ao fundo.

Descendo a margem esquerda do vale do Rio Calvo, com terras portuguesas ao fundo.
Com 12 km percorridos, pouco antes das três da tarde estávamos junto à Ermida da Peña de Francia ... onde nos esperavam umas boas empanadas e não só... 😊. Esperava-nos também algum descanso, já que a tarde estava excepcionalmente quente. Só voltámos ao trilho mais de duas horas depois, agora pelo Camiño de San Martiño, entre o rio Oulo e de novo o Deva, junto à pequena aldeia de Ibia.

Ermida da Peña de Francia
Rio Oulo ...
... e de novo o rio Deva
E, quase às seis e meia da tarde, o regresso ao ponto de origem marcou o fim desta belíssima caminhada pelas fragas e levadas do Calvo e do Deva ... e com ela de uma "semana galega" que nos levara, a mim e à minha estrela, aos confins da Costa Ártabra, às terras da Finisterrae ... e ao campus stellae, a Santiago. Uma semana a dois, culminada da melhor forma, a quatro, nas terras de A Cañiza. Aqui fica o agradecimento aos nossos anfitriões galaico portugueses! Moitas grazas! Graciñas, amigos!
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