sábado, 25 de março de 2017

Por terras de Odivelas, Ferreira do Alentejo

No passado dia 1 de Março, com três amigos da "família" Gaspar Correia, participei num reconhecimento para a caminhada comemorativa do 32º aniversário daquele vetusto Grupo. Em terras alentejanas de Ferreira do Alentejo, a caminhada foi hoje ... um dia em que as previsões apontavam para chuva e aguaceiros ... mas em que, mais uma vez, não apanhámos uma pinga de água!

Odivelas, 25.03.2017, 10h50 - Os campos verdes a nascente
Chegados pouco depois das dez da manhã, Odivelas recebeu-nos para uma pequena volta pela povoação, situada no alto de uma colina a dominar os campos verdes em redor. O rumo, depois, foi para nascente, em direcção ao geodésico da Cova do Medo (114m alt.) e à Barragem de Odivelas.

Saímos de Odivelas para nascente
Através dos belos campos verdes,
com "mirones" a observarem-nos...
... chegamos à Barragem de Odivelas
A barragem foi o local eleito para o almoço. Pouco antes, bordejámos o Parque Markádia, uma área recreacional que inclui parque de campismo, apartamentos turísticos, praia e parque de recreio.

Barragem de Odivelas e respectivo Bar da praia fluvial
Depois do almoço, o regresso foi inicialmente junto ao Canal de irrigação que leva as águas para os campos a sul, atravessando depois belas colinas de um verde ondulante, entre a barragem e o Monte do Olival ... onde tal como há três semanas nos esperava uma "comissão de recepção" bovina... 😊

Gente
jovem... 😉
E prosseguimos rumo a Odivelas
Pouco depois das três da tarde tínhamos de novo Odivelas à vista. O troço final seguiu o curso da Ribeira de Odivelas quase até à entrada na povoação ... que nos recebe com uma empinada rampa e escada de acesso ao centro e ao nosso ponto de partida.

Ao longo da Ribeira de Odivelas
"Subidinha" final...
Cinco minutos antes da hora prevista - quatro da tarde - estávamos junto ao Pavilhão Desportivo e Cultural de Odivelas, de onde tínhamos partido ... e onde nos esperava o lanche/jantar comemorativo dos 32 anos do Grupo. Como já aqui tenho destacado, o Grupo de Caminheiros Gaspar Correia - a cuja Direcção pertenci durante 10 anos - é um dos mais antigos grupos de pedestrianismo portugueses, que se orgulha (e muito) de ainda contar, no activo, com vários elementos fundadores! Caminheiros Gaspar Correia ... Parabéns!

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domingo, 12 de março de 2017

Olho Marinho: Serra, mar, planície, belos horizontes ... e memórias!

A pequena povoação de Bolhos, na freguesia de Atouguia da Baleia, concelho de Peniche - em pleno Planalto das Cezaredas - teve sempre para este amante da Natureza a marca simbólica de ter sido lá que iniciei os "instantâneos de uma vida ao ar livre" ... a minha vida "por fragas e pragas..."
Novembro de 1970
Grutas de Bolhos, 1 de
Efectivamente, a 1 de Novembro do longínquo ano de 1970, eu nascia para a minha vida de "aventuras", pela mão do meu saudoso professor de Ciências Naturais, Dr. Hernâni de Seabra Ribau, conforme contei nestas minhas memórias, no artigo referente àqueles "anos loucos". Com outros jovens do saudoso CNJE (Centro Nacional Juvenil de Espeleologia), iniciei-me no Algar dos Bolhos ... e a vida ao ar livre nasceu para mim! Nos anos que se seguiram, por duas ou três vezes lá passei perto, mas nunca mais voltei a Bolhos ... até hoje ... mais de 46 anos depois! E porquê hoje? Porque se proporcionou participar, com a minha "mana" Paula, numa actividade destinada àquela zona, proposta pelas "Rotas e Trilhos na Natureza".
Algar dos Bolhos, na actualidade
(Foto: Núcleo de Amigos dos Buracos das Cesaredas)
A caminhada, circular, iniciou-se na povoação de Olho Marinho. Mais uma memória, esta bem mais recente: no dia 16 de Abril de 2015, o Olho Marinho abriu-me por momentos as portas do paraíso, no início de um caminho que o destino não transformou em Caminho. Aquele "olho", em cujas águas já Inês de Castro tratava a pele e os olhos, convidou-me e aos meus "manos" a uma paragem para refrescar e hidratar os pés ... os pés que três dias depois me levariam a interromper em Ourém aquele que seria o Caminho Santa Cruz - Santiago ... o Caminho das Cinzas.
E assim, pelas nove e meia da manhã de um domingo muito ventoso, estávamos a partir do Olho Marinho rumo a sudoeste e ao parque eólico da Serra d'El-Rei. A nebulosidade sobre o mar não deixava ver as Berlengas, mas uma hora e pouco depois estávamos no extremo ocidental do planalto das Cezaredas ... com Bolhos aos pés.

Olho Marinho, 16.04.2015 ... durante um caminho que o destino não transformou em Caminho...
Com Bolhos à vista, 12.03.2017, 10h50
Na serra de Bolhos, não devemos ter passado longe da "minha" gruta, onde tudo começou, um dia, há mais de 46 anos. Um companheiro conhecedor do terreno e que também lá tinha estado há uns anos ainda a procurou; acompanhei-o ... mas não demos com o "meu" histórico Algar do Casal da Lebre, como também se chama. Um dia destes volto lá a procurá-lo, com alguém de Bolhos. E o rumo era agora para sul, ao longo do bordo escarpado das Cezaredas, sobre Bolhos, a Riba Fria, Bufarda, até ao mar, em terras de S. Bernardino. Ligeiramente a noroeste, a Barragem de S. Domingos, e Peniche.

Ao longo do escarpado limite ocidental do planalto das Cezaredas, rumo ao geodésico da Cabreira
Vista para noroeste, com a barragem de S. Domingos
e Peniche ao fundo, do miradouro da Pena Seca
A partir da Pena Seca rumámos a nascente, por caminhos de terra batida, em direcção à aldeia de Cezaredas. E, nesta jornada que já me levara a dois locais "históricos" ... surgiu-me o terceiro: fomos parar para reforço alimentar exactamente no mesmo local e no mesmo bar onde parei com os meus dois "manos" no primeiro dia do "Caminho das Cinzas": a Associação Recreativa Cultural e Desportiva das Cezaredas.

Associação Recreativa Cultural e Desportiva das Cezaredas: são horas de almoço ... tal como há 2 anos...
E das Cezaredas dirigimo-nos ao vale da Tornada, no rio Galvão, entre o Reguengo Grande e a aldeia de . Não imaginaria que ali íamos encontrar ... uma fabulosa cascata, sucessivos antigos moinhos de água e até pontes romanas, fazendo-nos imaginar que estávamos muito mais a norte.

Rumo ao Vale da Tornada (Rio Galvão)
Cascatas do Rio Galvão (Foto da
esquerda e antepenúltima: Helder Carvalho)
Subindo o curso do Rio Galvão, das cascatas de Tornada à aldeia de
Dez minutos antes das três da tarde estávamos junto às aldeias de  e Camarnais. O rio Galvão seguiria agora para nordeste ... e nós para noroeste, rumo ao ponto de partida, na aldeia de Olho Marinho. Entrámos pela parte antiga da aldeia ... e lá fomos dar à famosa "nascente" dos Olhos de Água. Desta vez ... não tirei fotografias em automático... 😊. Não entendem? Leiam o "Caminho das Cinzas"...


Olho Marinho ... e o fim de uma bela caminhada, nas "Rotas e Trilhos na Natureza"
Quatro da tarde, à hora prevista, tínhamos fechado o círculo, com 20 quilómetros e umas poucas centenas de metros percorridos. Tínhamos tido serra, planalto, planície, tínhamos visto o mar e belos horizontes ... e revivi memórias!
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quarta-feira, 8 de março de 2017

Uma "odisseia" na Fórnea...

Não, não se assustem os meus habituais leitores com o título da fraga que hoje vos trago. Apesar de chamar habitualmente "aventuras" às minhas andanças por fragas e pragas ... uma odisseia seria demasiado ... daí as aspas... 😃
Vale de Alvados, 8.03.2017
Acontece que a "aventura" de hoje, vivida apenas com a minha "pequena arraiana", teve por base uma oferta de um dos populares packs do "odisseias.com". A esgotar-se o prazo para gozar a "fuga a dois" ... a escolha recaiu no "Retiro da Avó Lídia", na pequena aldeia de Mendiga, em pleno Parque Natural das Serras d'Aire e Candeeiros. Quem conhece a zona já estará, assim, a perceber o título: o "odisseias" deu origem ... a uma "aventura" na Fórnea de Alcaria. Exactamente ... a Alcaria das minhas "aventuras" de há quase meio século, quando a Espeleologia me lançou nas "aventuras" ao ar livre, nos "anos loucos" de 1970 a 1972. Claro que já tinha voltado a estas terras, mas a minha arraiana não conhecia a famosa Fórnea, a não ser um leve bordejar do seu cume, há 4 anos, com os Caminheiros Gaspar Correia ... num dia de chuva. Hoje, pelo contrário, estava um óptimo dia de Sol, prenúncio de uma Primavera a chegar ... inspirador para viver "aventuras" ... e "odisseias"... 😂. E, assim, no Dia da Mulher ... a minha estrela subiu e desceu a Fórnea!

Subida de Zambujal de Alcaria ao Cabeço da Fórnea pela face norte, mais suave
A Fórnea é uma formação geológica espectacular, única no país. Trata-se de um magnífico anfiteatro natural, com cerca de 500 metros de diâmetro e 250 metros de altura, onde brota a ribeira da Fórnea, uma das linhas de água que formam o rio Lena, que desagua no Lis na cidade de Leiria. Subir ou descer a Fórnea não é para todos; os quase 300 metros de desnível, entre Zambujal de Alcaria e o cume do Cabeço da Fórnea, requerem esforço. A jornada teria de ser por isso compassada, a distância total não poderia ser muita ... e optei pelo "ataque" pela encosta norte, mais suave, virada a Porto de Mós.

Porto de Mós ao fundo,
com o seu Castelo
Pouco passava do meio dia quando o bordo da Fórnea se abriu à nossa frente. A heroína do dia seguiu o trilho que passa próximo da aldeia de Chão das Pias, este "aventureiro" subiu mesmo aos 525 metros do Cabeço da Fórnea. Aquela "taça", escavada pela Natureza em plena serra, faz-nos sentir pequenos ... e convida a abrir asas e voar ... pelo menos nas asas da imaginação.
E a Fórnea abre-se diante de nós
Aldeia de Chão das Pias, junto ao bordo oeste da Fórnea
Dêem-me asas ... para voar sobre este anfiteatro natural...
O almoço, ligeiro, foi nesta espectacular varanda ... da qual havia agora que descer, de regresso a Alcaria. A minha arraiana prefere sempre os declives maiores a descer do que a subir ... pelo que iniciámos o autêntico "mergulho" na vertente sul da Fórnea ... num permanente teste de travagem...

A vertiginosa descida para o fundo da Fórnea, em permanente teste de travagem
Sensivelmente a meio da descida, um pequeno desvio leva-nos à Cova da Velha, a gruta de onde brota o Ribeiro da Fórnea. Nestes terrenos cársicos, a água aparece e desaparece rapidamente, consoante a precipitação. Ainda não há muitos dias vi fotografias (e vídeos) de uma impressionante quantidade de água a jorrar desta nascente. Bastaram contudo meia dúzia de dias sem chuva para da Cova brotar apenas uma diminuta cascata interna. A panorâmica para o vale e as paredes que nos circundam valem contudo bem aquele pequeno desvio, a partir do qual se desce para o troço final, até Alcaria.

O vale da Fórnea, da Cova da Velha

Cova da Velha: nascente da Ribeira da Fórnea
Impressionante, o que já descemos!
E, vale abaixo, seguimos o curso do Ribeiro da Fórnea, o jovem rio Lena
Zambujal de Alcaria à vista
Antes das três da tarde estávamos de regresso a Zambujal de Alcaria ... e ao meu velho Café da Bica ... onde me esperava uma surpresa boa! Começo por transcrever o que escrevi há 6 anos, a propósito da velha Zambujal de Alcaria e das minhas "aventuras" perdidas na noite de quase meio século:

"Que será feito da D.ª Meireles e do velho "Café da Bica", em Zambujal de Alcaria, Serra d'Aire? Na minha primeira "missão" à serra d'Aire – 14 e 15 de Novembro de 1970 – dormi, como os outros, no palheiro a que chamávamos a Casa Abrigo do Centro Nacional Juvenil de Espeleologia. Começámos a subir a serra antes das 7 horas, ainda de noite. Percorremos uns km pelos píncaros e pelas 8 começou a nascer o Sol! Sem frio, com o grande cenário das serranias a perder de vista, o Sol elevava-se sobre o horizonte e nós caminhávamos entre vales e serra, sobre estreitos e tortuosos atalhos, ao som do velho hino:
O velho "Café da Bica" lá continua

Minhas botas, velhas, cardadas,
palmilhando léguas sem fim,
quanto mais velhinhas e estragadas
quanto mais vigor sinto em mim"

Pois o velho "Café da Bica" lá continua em Zambujal de Alcaria ... e a Dª Meireles continua à frente dele!!! Afinal ... a Dª Meireles era pouco mais velha do que nós éramos, naquele remoto início dos anos 70 do século passado! Eu e a maioria dos meus companheiros de "aventuras" tínhamos 17, 18, 19 anos; ela ... a Dª Meireles ... teria 20 e poucos!!! E, hoje, 8 de Março de 2017, mais de 46 anos depois ... fui encontrar de novo a Dª Meireles. Foi ela que me serviu a bica que lhe pedi ... foi ela que me falou do Cordeiro, do Marques, do Serra, do Batáguas. Falei-lhe do Prof. Vilar Moreira ... não sabia que já não está entre nós. E ali, naqueles 5 minutos de uma bica ... pareceu-me ter recuado quase 50 anos no tempo! Alcaria, de alguma forma ... ficou a fazer parte de mim.

"Retiro da Avó
Lídia", Mendiga
Terminada a "aventura" pedestre ... seguia-se a "odisseia" de que íamos gozar. No muito que ainda restava de uma tarde de Sol, esperava-nos o "Retiro da Avó Lídia", em Mendiga. E que esplêndida e acolhedora casa aqui viemos encontrar! Casualmente no Dia da Mulher ... a minha "pequena arraiana" teve o fim de tarde de que gosta... 😊. E o jantar foi no não menos acolhedor "Gigas", em Marinha da Mendiga, a apenas 2 km da "avó Lídia"; outra bela referência sem dúvida a aconselhar, pela qualidade, simpatia ... e excelente preço. Pena amanhã já acabar esta "odisseia"... 😏
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