quarta-feira, 27 de abril de 2016

De Saint Jean Pied de Port a Santiago (1)

"Llega el día soñado, nervios para llegar al lugar de partida, mil veces has deshecho la mochila, no sabes si te faltará algo ... y de pronto ... EL CAMINO"
(Rafa R. Aguilar, https://goo.gl/x78Kzr)
Saint Jean Pied de Port, 27.04.2016
A VIAGEM PARA O SONHO
Saint Jean Pied de Port, 27 de Abril
O Caminho de Santiago começou por uma ideia, um projecto. E, de repente, aqui estou eu a mil quilómetros de casa, em Saint Jean Pied de Port, nos Pirenéus franceses. Saímos de Lisboa há mais de 24 horas. Para trás ficou o ninho, a dor de deixar as pessoas amadas, as que só partiram connosco no coração. Aos últimos abraços das despedidas, seguem-se os primeiros abraços entre os três ... com recomendações da Mana Cristina para não chorarmos...! "Começou a aventura", dizemos ... ou o sonho! Para a cama vaga que sobrava no compartimento, entrou um surfista suíço; a prancha tem de fazer ginástica para entrar ... e ficou atravessada junto ao tecto.
Entroncamento, Pombal ... procuramos dormir ... e adormeço. Às 4 e tal da manhã acordo, julgando-me já em terras de Espanha. Mas o comboio está parado ... e pelo GPS vejo que ainda estamos antes da Guarda!!! O Zé Manel consegue saber que o comboio atropelou um cavalo que se atravessou na linha! Tiveram de substituir a locomotiva, que ficou danificada. Três horas e meia de atraso!... O dia nasce ... e lá vamos Espanha adentro. Já não dá para apanhar o comboio das 13:30 em Hendaye, claro, mas sabemos que há outro às 16:25. Passamos Burgos ... onde temos encontro marcado para daqui a 10 dias.

Hendaye, 27.04.2016
Hendaye, finalmente. Estamos em terras gaulesas! A troca do bilhete que tínhamos não levanta problemas ... e partimos para Saint Jean, primeiro de comboio, até Bayonne, depois de autocarro. E eis-nos à beira do Nive, na cidadela medieval onde convergem quase todos os Caminhos de peregrinação europeus ... rumo às estrelas.

E ... as primeiras setas do Camino. Estamos no início da estrada para as estrelas...
Chegámos!
E ... o nosso primeiro Albergue ... Le Chemin vers l'étoile
Amanhã começamos! E, logo para começar ... espera-nos a "etapa rainha": Saint Jean Pied de Port - Roncesvalles ... a magia dos Pirenéus. Uma etapa mística! Soará nos ares a voz de Rolando, de Napoleão ... soará dentro de mim a voz do pai da minha amada, o meu querido e saudoso Zé Malhadas ... que partiu para o eterno faz amanhã exactamente 13 anos. E pode ser que nos acompanhe a minha gralha de bico amarelo ... a que me visitou no cume do Toubkal...

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Vía Verde de la Sierra

Nas vésperas da partida para o grande Camiño a que me referi no respectivo Prólogo, os Caminheiros Gaspar Correia levaram-me, a mim e à minha "musa", para terras andaluzas. Três dias destinados a Sevilha e à Vía Verde de la Sierra.
Sevilha, 23.04.2016 - A Torre del Oro e o Guadalquivir
Situada entre Sevilha e Ronda, a Vía Verde de la Sierra era uma linha ferroviária adaptada para pedestrianismo e ciclismo, entre as localidades de Puerto Serrano y Olvera, encravada nas magníficas paisagens das serranias béticas. Uma das curiosidades desta antiga linha férrea é desde logo o facto … de nela nunca ter circulado nenhum comboio. Com as obras praticamente concluídas, o estalar da guerra civil espanhola paralisou a concretização do projecto.
Sábado, uma viagem madrugadora proporcionou um almoço e uma tarde em Sevilha. E às seis horas estávamos em Coripe, pequeno município encravado entre as províncias de Sevilha e Cádiz, junto à confluência dos rios Guadalete e Guadalporcún. Guadal, prefixo comum à maioria dos rios do sul ibérico (como o Guadalquivir), deriva da palavra árabe wadi, que se refere a cursos de água fortemente sazonais, muito caudalosos na época das chuvas e secando-se quase completamente no verão. Com o grupo distribuído por vários alojamentos em Coripe, o primeiro percurso pedestre começou na própria vila, ao longo do vale do Guadalporcún, que a Via Verde acompanha quase permanentemente, para começarmos a descobrir cantos e recantos destas paragens escondidas entre margens escarpadas. Iam-se começar a suceder os túneis, principalmente a partir do viaduto e da estação de Coripe, transformada em hotel e restaurante.

Estação de Coripe
Ao longo da Vía Verde ... rodeados de verde
Às onze e meia estávamos junto ao Centro de Interpretação do Peñón de Zaframagón, uma alta e escarpada penedia onde nidificam os abutres e onde se situa uma ilustrativa exposição e um observatório que nos permite ver, em tempo real, o que se passa nos ninhos, escarpas e nos céus de Zaframagón.

Centro de Interpretação do Peñon de Zaframagón
Mais 5 túneis, com o percurso agora um pouco mais afastado do rio mas atravessando campos de um verde intenso, rodeados de elevações que nos permitiam imaginar que estávamos em paragens muito mais longínquas e exóticas, e estávamos na Estação de Navalagrulla, a única que nunca foi reabilitada. Aqui nos esperava o autocarro, que dali nos levou a Olvera, município de rasgos árabes declarado Conjunto Histórico-Artístico, na chamada rota dos Pueblos Blancos. Do alto do castelo, a panorâmica era de 360º

E continuamos por entre campos verdes e montanhas exóticas...
... até Olvera, pueblo blanco
Antes do regresso a Coripe, já com a primavera andaluza a ultrapassar os 25º, ainda fomos conhecer outra pérola encravada naquelas serranias: Setenil de las Bodegas, povoação que nasceu autenticamente "debaixo" e "dentro" das rochas.

Setenil de las Bodegas, encravada na rocha, nas margens do Guadalporcún
E chegava 2ª feira, 25 de Abril. Os 42 anos da revolução dos cravos foram comemorados, para nós, com um segundo percurso pedestre igualmente a sul de Coripe, cujo principal atractivo foi o monumento natural do Chaparro de La Vega, que ultrapassa os 14 metros de altura e os 30 metros de diâmetro da copa. No local são frequentes múltiplos convívios … como aquele com que encerrámos alegremente as actividades deste belíssimo fim de semana prolongado. Efectivamente … o almoço foi um lauto e bem animado "banquete", preparado e servido no aprazível espaço de lazer do Chaparro de La Vega. A Primavera, naquelas paragens, já sabia a Verão…

No Chaparro de La Vega
Uma saborosa paella,
junto ao milenar chaparro
Restava o regresso a casa … na véspera da minha partida para aquele que se espera ser um longo Caminho das Estrelas...
Via Verde de la Sierra (Coripe)

sexta-feira, 15 de abril de 2016

De Saint Jean Pied de Port a Santiago
... e aos "Camiños da Fín da Terra"    

PRÓLOGO
Faz hoje um ano que iniciei na Praia de Santa Cruz, com os dois grandes Amigos e Irmãos José Manuel Messias e António Araújo, um Caminho em que idealizara levar a Santiago de Compostela e ao mar de Fisterra as pedras do mar de Santa Cruz ... e, com elas, a memória da minha Mãe. O destino transformou-o contudo num Caminho Santa Cruz - Fátima - Ourém ... mas duas das três pedras simbólicas viajaram até ao "fim do mundo", em Maio ... num Caminho cuja meta havia sido definida antes mesmo do meu primeiro passo. O meu Caminho não acabara em Ourém...
Depois, em Setembro, um dia, acordado ... eu tive um sonho! Nesse sonho ... vi imagens do Caminho do meu Mano Araújo ... vi imagens do filme "The Way" ... à mistura com imagens do Caminho interrompido em Ourém ... do "Caminho" do Toubkal ... da gralha de bico amarelo que "falou" comigo no cume, a quase 4200m de altitude ... vi imagens da Praça Jemaa el Fna … na qual aliás termina o filme "The Way".
Desse sonho, dessas imagens ... nasceu um projecto: fazer o Caminho Francês em 2016, de Saint Jean Pied de Port a Santiago, a Muxía, a Fisterra ... e fazê-lo com Amigos ... com Irmãos. O Caminho "da Aventura", em 2014, foi a vivência mais transcendente da minha vida. As imagens, sons, emoções, continuam bem presentes no mais íntimo de mim. Sei que nada se repete, que nada é igual ... mas sei que quero partir. Quando, em Setembro, partilhei o meu sonho ... recebi do Mano Araújo três palavras simples: "arrepiado a ler..."; respondi-lhe: "eu sei..."
Não farei este Camiño por nenhuma promessa ou obrigação. Quero muito fazê-lo, creio estar ao alcance de o fazer, mas continuo a não saber o que sou ou sequer quem sou. Fiz uma única promessa, e essa à Compañeira do meu grande Camiño da Vida: se concretizar este Caminho … não me separarei dela nem mais uma noite, em 2016. Só a preparei quando teve de ser; não valia a pena dar-lhe a dor da separação muito antes. Mas, quando teve de ser ... contei com a aceitação e a compreensão com que sabia que iria contar. É assim o Amor ... o Amor que não coarta paixões, sonhos, ambições.
Estou consciente da dimensão do projecto e da dor que vai ser, também para mim, a separação tão prolongada do ninho familiar. Mas também sei que, se quero meter-me neste Camiño … não poderia esperar muito. Tenho de o fazer enquanto as pernas ainda andarem, enquanto a saúde e a idade o permitirem … enquanto a Europa e a nossa Ibéria ainda forem como nós as conhecemos…
Partida do Mano Araújo para o
Caminho Francês, 17.04.2014
Em Abril de 2014 - faz depois de amanhã dois anos - despedi-me do Mano Araújo na Estação de Santa Apolónia. Ver partir um amigo para o Caminho de Santiago ... é um turbilhão de sentimentos. É uma despedida, é ao mesmo tempo uma vontade de o acompanhar, um voto de louvor, um desejo de que tudo corra bem. É um dar-lhe os parabéns pela coragem, particularmente quando se trata de ter quase mil quilómetros pela frente! Se nos Caminhos de Santiago há verdadeiros peregrinos, naquele dia partiu um verdadeiro peregrino ... um verdadeiro Santiagueiro! A imagem do seu rosto, naquela noite, não mais me saiu da memória. Menos de três meses depois ... estava comigo no Caminho "da Aventura".
Mas o Caminho Francês, diz o meu Mano Araújo, é o Caminho de todos os Caminhos ... o Caminho de uma Vida. Não o vai portanto repetir. A Cristina, o Vítor, a Anabela ... cada um tem os seus anseios, as suas paixões, os seus momentos ... os seus Caminhos. Mas o Mano Messias, que esteve com o Araújo e comigo no Caminho Santa Cruz - Fátima, que esteve no "Caminho" do Toubkal e em tantas outras "aventuras" (o destino impediu-o de participar no Caminho "da Aventura") ... vai partir comigo, no próximo dia 26, para Saint Jean Pied de Port, para iniciarmos o nosso grande Camiño, o Caminho das Estrelas ... até onde as estrelas nos levarem.
Estação de Santa Apolónia, 19.01.2016
Estudos e preparativos...
Connosco, vai partir também o Amigo António Banha, a quem as estrelas já me ligaram por várias "aventuras" e, essencialmente, pelo sonho do Caminho de uma Vida, o Caminho Francês. Depois ... os caminhos do destino trouxeram-me, em Novembro de 2014, na Serra Amarela, aquela que viria a ser a minha "irmã" mais nova; como já tenho referido noutras "fragas", os Caminhos do Tejo uniram-nos definitivamente em Setembro de 2015 ... poucos dias depois do meu sonho ... que ela aceitou prontamente viver. Curiosamente - ou talvez não - quando nos conhecemos em Germil, na Serra Amarela, tínhamos frente ao Abrigo de Montanha a célebre frase de Chris McCandless ... "Happiness is only real when shared "; eu acrescentaria, neste caso ... shared with an angel...
E assim, se as estrelas nos guiarem, no próximo dia 7 a Mana Paula encontrar-se-á connosco em Burgos ... para seguirmos rumo ao Campus Stellae e aos "Camiños da Fín da Terra"! Pode ser que a minha gralha de bico amarelo, a que me visitou no cume do Toubkal ... nos acompanhe no nosso Camiño...

Cume da Serra da Marvana, 19.03.2016
3 caminheiros ... com um Caminho no horizonte


Três bilhetes de comboio para
Saint Jean Pied de Port e um para Burgos ...
ou o nosso Passaporte para viver um Sonho
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E o Sonho está assim a pouco mais de uma semana de começar! Seremos capazes? Não sei ... ninguém sabe. Só lá saberemos, dia a dia, passo a passo. No próximo dia 26, à noite, na partida ... a felicidade vai-se certamente misturar com a tristeza, a alegria vai-se confundir com a dor de deixar o ninho, de deixar as pessoas amadas, as que só no coração partem connosco. Esse é um dos Mistérios do Caminho...! Tal como há dois anos lhe preparámos à partida, o Mano Araújo convocou para dia 26, em Santa Apolónia ... um Abraço Santiagueiro!... Obrigado, Mano Maior!
Até dia 26, contudo ... ainda tenho uma "aventura" com a minha velha "família" Gaspar Correia (e com a minha compañeira...); depois, durante mais de um mês ... o "Por fragas e pragas..." tentará acompanhar o nosso Camiño. Quando possível ... se possível ... sem obrigações ... passo a passo.
O Caminho faz-se Caminhando...
Zé Manel, António, Paulita ... ¡buen Camino! X

(A partir do dia 27, o Camiño estará no "fragas" - http://goo.gl/Q0bP2s - quando possível ... se possível)

A "etapa rainha" do Caminho Francês (Saint Jean Pied de Port - Roncesvalles) ... na visão do Mano Araújo
(Abril de 2014)

sábado, 2 de abril de 2016

Por trilhos Nabantinos ... com os Novos Trilhos

Desde Janeiro que não caminhava com os Novos Trilhos. A segunda oportunidade do ano surgiu para uma caminhada na bela região de Tomar, a cidade dos Templários.
Tomar, 2.04.2016, 9:10h - Os Novos Trilhos vão começar...
Com a Mana Paula desde Santarém, uns minutos antes das 9 horas estávamos junto à estação de comboio de Tomar. Com início na cidade, o percurso começou pela Mata dos Sete Montes, também conhecida como a Cerca do Convento, de que fazia parte integrante, sendo usada pela Ordem de Cristo como área de cultivo e recolhimento. Dela subimos ao Convento de Cristo ... que tomámos literalmente de "assalto", escalando o seu muro exterior... J

Mata dos Sete Montes, ou Cerca do Convento de Cristo
Quando tomámos o Convento de "assalto"... J
Novos Trilhos no Convento de Cristo (foto de grupo)
Do Covento de Cristo seguiu-se a descida aos Montes da Pedreira e ao vale do Nabão, até cerca da Ermida das Lapas. O almoço foi aliás junto ao rio, num dos locais paradisíacos do ambiente ribeirinho.

Descida aos Montes da Pedreira
E chegámos às águas do Nabão: açude do Sobreirinho
O regresso levou-nos pela margem direita do Nabão, passando pela açude do Sobreirinho, rumo à Fábrica de Papel do Prado, onde passámos para a margem esquerda.

Pela margem direita
do Nabãorumo ao Prado
Já na margem esquerda ... dos trilhos Nabantinos
E por trilhos nabantinos continuámos até ao Outeiro dos Frades, onde é pena o estado de degradação do que resta das estruturas que ali em tempos existiram. E estávamos já perto do final. No regresso à cidade, entrámos pelo Jardim do Mouchão e pela zona histórica, com a sua característica Praça da República.

O Nabão no Outeiro dos Frades
Regresso a Tomar pelo Jardim do Mouchão
Pouco depois das quatro da tarde estávamos de regresso aos carros, no final desta bela primeira caminhada de Primavera, num belo dia de Primavera.

E de novo Tomar, no final de uma bela caminhada
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