quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Cumes de Somiedo e Ubiñas (4)

Ao idealizar os "Cumes de Somiedo e Ubiñas", pensei em levar quem me quisesse seguir a Peña Ubiña (2417m) - que eu não conhecia, como disse - e aos dois mais altos cumes de Somiedo: Peña Orniz (2191m) - previsto na "edição" de 2014 mas onde não chegámos a ir - e o Cornón (2194m). Estes dois cumes já eram meus "velhos" conhecidos de "aventuras" anteriores; reservei-os para os nossos dois últimos dias no paraíso ... e S. Pedro colaborou, mais uma vez, dando-nos os dois melhores dias!
Quarta feira, dia 21, bem cedo e ainda de noite, saímos portanto de Saliencia para uma viagem de mais de uma hora de autocarro, até à leonesa La Cueta de Babia.
21 de Outubro, 8:30h - O dia nasce na encosta leonesa. Vamos começar mais uma "aventura", em terras de Babia
Peña Orniz e Lagos de Saliencia (La Cueta de Babia - Alto de La Farrapona)
A 1460 metros de altitude, La Cueta é a povoação mais alta de Leão, na encosta sul da cordilheira que separa terras de Somiedo das de Babia, junto à nascente do Rio Sil. O percurso em que iríamos subir a Peña Orniz baseava-se no percurso que fiz a solo dois anos antes; a solo não ... acompanhado do "meu" Mastín, o belo cão guardador de gado que me acompanhou nessa altura durante os 21 km da caminhada! Agora, estava por um lado desejoso de rever aquele meu fiel amigo, mas por outro lado preocupado que eventualmente ele me voltasse a seguir. Não o vi, contudo. Espero que esteja vivo!

21.10.2015, 9:00h - La Cueta de Babia, 1460m, o mais alto pueblo leonês
Às 9:00h da manhã estávamos assim a iniciar, em La Cueta, a subida do Alto Sil. Foi talvez o dia mais frio, na hora da partida, mas os céus estavam maravilhosamente limpos. Primeiro pela margem esquerda do Sil, atravessámo-lo na Puente Bustusil, deixando para trás La Cueta e as cores outonais nas pequenas manchas arbóreas que ladeavam o rio. O destino era, como há dois anos, as altas Praderas de Cebolléu, com a parede rochosa da Sierra de La Mortera à nossa frente.

Praderas de Cebolléu, com os Picos de La Mortera ao fundo
Majada de Covalancha, 1750m alt.
Acima já dos 1700 metros de altitude, das Praderas de Cebolléu e da Majada de Covalancha tem-se um amplo panorama para sul e poente, distinguindo-se ao fundo o imponente Cornón. A norte, os Picos de La Mortera e o Collado La Paredina, por onde no ano anterior tínhamos passado para a Braña de Murias Llongas. Aos nossos pés e para leste o vale do Sil, que continuávamos a acompanhar, ganhando sempre altitude, à medida que contornávamos o Pico Cuetalbo, que igualmente subi em 2006.

Ao fundo ... o Cornón, tecto de Somiedo
Parecemos cabras, ao longo dos Puertos de Cuetalbo, com as Fuentes del Sil aos nossos pés
Ao meio dia estávamos no Collado de Orniz, a 2000 metros de altitude, sobre as Fuentes del Sil. Ali voltaríamos depois da subida ao cume de Peña Orniz. O "mano" Zé Manel quis poupar o joelho, como em Peña Ubiña ... e guardá-lo para o Cornón. Quanto a mim ... no Collado de Orniz não pensei duas vezes se levava ou não a mochila até ao cume... J. Faltavam quase 200 metros de desnível...

Rumo ao Cume de Peña Orniz
"Base" de Peña Orniz, sobre as Lagunas de Congosto, com as Ubiñas ao fundo ... ou quando se conquistam os céus!
Rumo ao Cume!
Cume de Peña Orniz (2191m alt.) (Foto: Joaquim F. Gomes)
A paisagem "lunar" de Las Morteras, vista do cume de Peña Orniz
Regresso ao Collado de Orniz
Collado de Orniz (2008m alt.): local de almoço ...
mas também de quem quis voltar a subir um pico... J
O segundo cume mais alto de Somiedo estava feito. O autocarro estava em La Cueta; o nosso motorista / montanhista tinha de o levar para o alto da Farrapona, onde contávamos terminar ... e por isso regressou, mais ou menos pelo mesmo caminho. Os restantes, após o break de almoço no Collado de Orniz ... íamos "mergulhar" na paisagem quase lunar de Las Morteras.

Descida do Collado de Orniz para Las Morteras
Na paisagem quase
"lunar" de Las Morteras
As camurças saúdam-nos   (Fotos: Américo Guerreiro e Isaura Tavares)
Deixando para trás a mole imensa de Peña Orniz, íamo-nos aproximando dos Picos Albos ... e do verdadeiro miradouro natural sobre o Lago del Valle, o maior dos Lagos de Somiedo. No percurso, as camurças como que nos saudavam e vigiavam. Quantas fotos já ali fiz? Quantas vezes me extasiei na contemplação daquela panorâmica ímpar?... Quem disse que não é possível sonhar acordado?...

E de repente ... o Lago del Valle, o maior lago glaciar da Cordilheira Cantábrica
É possível sonhar
acordado...
De algum modo ... eu pertenço a estas terras...
A partir deste ponto, com pequenas variações, o percurso repetiu em sentido contrário o que havíamos feito, parte do grupo, um ano antes. Bordejamos a espectacular Majada El Coto, contornamos o Pico Rubio, voltamos praticamente aos 2000 metros de altitude entre os dois Picos Albos, oriental e ocidental ... e descemos a bom descer para os restantes quatro lagos de Somiedo, ou de Saliencia.

Majada El Coto ... e voltamos a subir, desta vez aos EntrePicos Albos
Peña Orniz como que se despede de nós ... ou nós dela...
Vultos na paisagem ...
... com cabelos de ouro ...
Laguna de Cebolléu
Às cinco da tarde estávamos junto à Laguna de Cebolléu, ou melhor, às pequenas lagunas que restam do que foi um lago único. Tínhamos sensivelmente duas horas e meia de luz ... e duas ou três hipóteses de percurso até ao Alto de La Farrapona, onde terminaríamos. A dureza do que já havíamos feito e a gestão do tempo ditou que optássemos pelo mais simples ... mas não de menor beleza. Descemos à Majada de Cerveiriz - com o lago do mesmo nome à sua direita - espreitámos o Lago de Calabazosa, ou Lago Negro, bordejámos a ex-laguna Almagrera, (lago seco) e descemos para o primeiro (ou o último, para nós) dos Lagos de Saliencia, o Lago de La Cueva. Talvez um pouco cansados ... mas de Alma cheia!

Descida para as Veigas de Cerveiriz
As sombras indicam-nos o rumo ...
Majada de Cerveiriz
Lago Negro, ou de Calabazosa
Sobre o Lago de La Cueva ... a Terra e o Céu inverteram-se!
São quase 19h ... e a "aventura" está a acabar ...
Passavam poucos minutos das sete da tarde quando chegámos à já nossa conhecida Farrapona. Houve quem todos os dias dissesse que viria a pé, à noite, de Saliencia à Farrapona ... mas deve ser na próxima edição de Somiedo... J. Estávamos no final de mais um dia mágico. Ainda ao Sol, as Ubiñas lá estavam a ver-nos terminá-lo, a saudar-nos pela nossa paixão. Saliencia esperava-nos.

Alto de La Farrapona, 19:20h - Ao fundo, ao Sol ... as Ubiñas saúdam-nos de novo!
Era o final de
mais um dia mágico...



(Escrito em Vale de Espinho, 1 de Novembro)

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