domingo, 27 de setembro de 2015

Caminhos do Tejo, de Belver à Praia do Ribatejo

O Caminho do Tejo é uma Grande Rota linear, com cerca de 45 km, ligando Constância a Alvega, no extremo leste do concelho de Abrantes.
Percurso da GR12 em Rossio ao Sul do Tejo, 26.09.2015
O traçado acompanha o rio Tejo e desenvolve-se maioritariamente em caminhos agrícolas e florestais de terra batida. A paisagem é marcada pelos extensos campos agrícolas que ocupam os terrenos mais planos e férteis e por olivais e algumas florestas de sobreiros e eucaliptos nas encostas mais inclinadas, assumindo-se nitidamente como uma zona de transição entre a Beira Baixa e o Ribatejo.
Os Novos Trilhos lançaram para este fim de semana o desafio dos Caminhos do Tejo; alinhei... J. E antes das oito da manhã estava-me a reunir com os outros quase 30 participantes na estação ferroviária de Praia do Ribatejo, para apanharmos o comboio até à estação de Belver, onde começámos a actividade pedestre, numa manhã de alguma neblina mas a prometer grande calor.

O Tejo na Barragem de Belver
Em Abril de 2013 tinha acabado aqui uma jornada com os Caminheiros Gaspar Correia, pelas Arribas do Tejo. Agora, estávamos a começar uma longa marcha de quase 60 km, distribuídos pelos dois dias, sábado ao longo da margem esquerda do Tejo e domingo pela direita.

Belos troços na margem esquerda do Tejo, entre a Barragem de Belver e Casa Branca
Pela lezíria, a jornada prosseguiu rumo às proximidades de Alvega e à pequena capela de Nossa Senhora da Guia, com a povoação de Ortiga do lado de lá do rio. O culto a Nossa Senhora da Guia perde-se na imemorial crença dos pescadores do Tejo, que a ela recorriam em ocasiões de aflição.

Frente à estação ferroviária de Ortiga
Capela de Nossa Senhora da Guia
Mais próximos do rio ou mais afastados, a paisagem continuava a desfilar, à medida que íamos pondo conversas em dia ... estabelecendo novas amizades ... reforçando outras ... vivendo!
Rodeámos a Central Termoeléctrica do Pego. A neblina com que a manhã tinha começado já se dissipara; o calor começava a apertar; uma boa sombra foi o local para a merecida pausa de almoço.

E a descida do Tejo continua-nos a oferecer belas paisagens ribeirinhas
À vista de terras de Alferrarede, na outra margem do Tejo, prosseguimos rumo ao Pego, onde o calor e a necessidade de hidratar nos fez entrar mesmo na povoação ... e num café para umas "lourinhas" J.

À sombra, ao Sol abrasador ... a jornada prossegue rumo a Abrantes
Pouco depois do Pego, tínhamos já Abrantes à vista, o destino da primeira "etapa" destes Caminhos do Tejo. E às cinco da tarde estávamos a atravessar os bem arranjados jardins ribeirinhos de Rossio ao Sul do Tejo - com o grande painel alusivo à GR12 com que encabecei este artigo - e a atravessar o rio, pela ponte da velha N2.

Rossio ao Sul do Tejo, com Abrantes como destino
E atravessamos o Tejo...
Em Abrantes, o nosso "hotel" era a Pousada de Juventude. Num local privilegiado, na encosta sobranceira ao Tejo, a Pousada de Abrantes ... é mesmo um "Hotel", com boas instalações, quartos (duplos e múltiplos) bons; recomendável. E depois do jantar ... que tal se fossemos até ao centro e ao Castelo? E lá fomos; em cima de 34 km ... fazer mais de 3 km de chinelos não é para todos... J

Da Pousada de Juventude de Abrantes
Abrantes by night, do Castelo
Pelo Castelo de Abrantes começou também a segunda etapa, que nos havia de levar, agora pela margem direita do Tejo, até às terras de Constância e ao ponto de partida. A manhã estava mais clara ainda do que a anterior ... prometendo outro dia de forte calor, neste início de Outono.

27 de Setembro, 8:55h - Abrantes desperta da neblina
À saída de Abrantes, o precioso café da manhã permitiu também adquirir lembranças doces para levar para casa. Duas dúzias de saborosas broas de Abrantes encheram o espaço ainda existente na mochila. Vá-se lá saber porquê ... a minha mochila passou a ser cobiçada o resto do caminho... J.

Abrançalha de Baixo, curioso topónimo que terá origem no nome do alcaide mouro Abraham Zaid,
que dominou Abrantes até à conquista por D. Afonso Henriques
Frente ao Tramagal, 10:40h
E entramos em Rio de Moinhos, 11:00h
Em Rio de Moinhos aproximámo-nos da margem mesmo do Tejo, cujas belas paisagens ribeirinhas acompanhámos durante uns quilómetros, ora por estradões agrícolas ... ora pelo meio de grandes milheirais. Ao longe, já tínhamos Constância à vista.



A jornada prossegue ... e antes da uma da tarde temos Constância à vista
O objectivo era portanto a foz do Zêzere, na terra de Camões. E foi à beira Zêzere que descansámos e almoçámos. Houve até ... quem se refrescasse nas águas, tentando afastar o calor abrasador que teimava em nos esturricar a pele.

Constância, sempre bela, reflecte-se nas águas do Tejo
Tejo que levas as águas ...
... e Zêzere que trazes as tuas...
O Zêzere, da ponte da velha N3
Recomeçámos pouco depois das duas e meia. Faltava pouco. Atravessado o Zêzere, voltámos à foz do lado oposto, para ali iniciar o percurso do passadiço das "Ninfas do Tejo", as Tágides a quem Camões terá pedido inspiração.

Constância e a Foz do Zêzere, agora da margem direita
No passadiço das "Ninfas do Tejo"
(Foto: Ilídio Marques)
Às três e meia da tarde estávamos de regresso à estação da Praia do Ribatejo, onde os carros haviam dormido. Tínhamos mais de 59 km nos pés, nos dois dias ... mais os que fizemos de chinelos em Abrantes. Um fim de semana duro, essencialmente pelo muito calor ... mas um fim de semana de encher a Alma, de respirar belas paisagens, convívio, alegria. Um fim de semana de travar novos conhecimentos, de reforçar amizades ... de alimentar magnetismos vindos de outras "aventuras". O campo, a Natureza, a paixão pela Vida ... prende e une os seus amantes!

Estação CP de Praia do Ribatejo, 15:30h
Tudo começara 59 km antes ... um dia antes!
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sábado, 19 de setembro de 2015

À (re)descoberta de Alcobertas e da aldeia de Chãos

Em 13 de Janeiro de 2011, poucos dias depois de ter começado estas "fragas e pragas", escrevia eu num dos artigos da parte retrospectiva, a que chamei "Os anos loucos (1970 / 72)":

Chãos, Março de 1972 - À porta do ... "Café cá do sítio"...
"Que será feito daquela boa gente que nos recebeu em Chãos, na Serra de Candeeiros, em Março de 1972 ... durante 11 dias?! O café do lugar foi logo baptizado: "Café cá do sítio"...! O neto do dono do café … até participou connosco na exploração das grutas. As grutas de Alcobertas são as maiores, mas muitas mais grutas e algares ali explorámos ao longo daqueles dias; algar das Cancelinhas, lapa do vale da lagoa, algar da Chouza do Luís, algar da Ortinha, são nomes que nunca mais me saíram da memória. Num esplendoroso dia em que subimos ao cruzeiro e marco geodésico, via-se toda a costa, de Peniche à Figueira da Foz, as Berlengas, a Lagoa de Óbidos, S. Martinho do Porto, a Nazaré, tudo em redor."

Pois bem, 43 anos depois, com 62 anos em vez de 18 ... voltei a Chãos e às grutas de Alcobertas! Os Caminheiros Gaspar Correia levaram-me lá! No passado dia 10 para um reconhecimento ... e hoje com todo o grupo. E foi ... uma espécie de viagem no tempo. Quando, no dia 10, eu mostrei a imagem acima e outras mais a alguns habitantes de Chãos ... as fotos fizeram sucesso. "Olha o meu querido paizinho", disse logo uma senhora que estava à porta do actual "Café Safari" ... aquele em que se transformou o "café cá do sítio" de há 43 anos. E fiquei a saber que não só o dono do café (à direita na foto) como até o neto que participou connosco nas "aventuras" de então ... já não estão vivos!
Olho de água de Alcobertas, 19.09.2015, 9:40h
Hoje ... levei as fotos "históricas" àquela boa gente de Chãos ... e vim com a promessa de que as vão emoldurar e pôr nas prateleiras do Café! Bem hajam ... por terem feito parte da história e das estórias da minha juventude!
Pouco depois das 9:30h iniciámos a nossa caminhada no "olho d'água" de Alcobertas. Os olhos de água correspondem a uma importante nascente, típica das imediações das serras calcárias. O "olho d'água" de Alcobertas é a nascente da Ribeira do mesmo nome, ponto de abastecimento para animais e pessoas que percorriam vários quilómetros desde aldeias vizinhas, como Chãos e Casais Monizes.

Subida do Vale Galego, com o vale de Alcobertas ao fundo
Entrada em Casais Monizes
E a caminhada prosseguiu rumo ao alto da Serra de Candeeiros. Em dia bastante quente, a subida foi lenta, mas os horizontes iam-se abrindo. Não com a luminosidade que descrevi da "pré-história" das minhas "fragas e pragas", mas da cumeada da serra distinguimos a enseada de S. Martinho do Porto, a Nazaré, a Foz do Arelho. E lá estava também o velho cruzeiro, assinalando o alto.

Casais Monizes ficou para trás ...
... e já se vê o mar!
O velho cruzeiro junto ao alto da Serra de Candeeiros, a 487 metros de altitude
Recomeçávamos agora a descer para nascente. A meia encosta, esperava-nos a visita à gruta de Chãos, ou de Alcobertas. A "Terra Chã" é a Cooperativa que visa actualmente a recuperação da gruta e a respectiva visitação e acessibilidade. Ocupada pelo homem há cerca de 15 mil anos, esta necrópole é composta por quatro salas em plano horizontal, numa extensão de cerca de 200 metros. Aqui foram encontrados indícios de ocupação humana de primitivas civilizações e das suas manifestações fúnebres. 43 anos depois, voltei portanto a entrar na gruta de Alcobertas, com os Caminheiros divididos em dois grupos e acompanhados pelo guia da Cooperativa "Terra Chã".

Chãos à vista
Começámos a caminhada lá em baixo...
Preparativos para a visita à gruta
E lá vamos para o mundo subterrâneo ...
A visita demorou aproximadamente meia hora para cada grupo, saboreando o fresco que se fazia sentir no interior da gruta e admirando as belas formações calcárias geradas pela Natureza.

Num mundo de formações calcárias
E vamos descer para Chãos
Panorâmica da descida
E a caminhada terminava em Chãos ... no "Café Safari", naturalmente, o "meu" "café cá do sítio" e dos meus companheiros de um passado longínquo...

O "Café Safari" hoje ...
... e há 43 anos.
Com o Sr. Rijo, então dono do "café cá do sítio
Em 1972 ... o trabalho de preparação para o chão de um quintal (onde agora é a continuação da casa...) valeu-nos uns "cobres" para o regresso a Lisboa...! Hoje ... o autocarro esperava-nos no fim da caminhada, para nos levar, antes do regresso a Lisboa, às Salinas de Rio Maior, com 8 séculos de história. Em 1177, Pêro D’Aragão e sua mulher Sancha Soares venderam aos Templários “a quinta parte que tinham do poço e Salinas de Rio Maior”.

Salinas da Fonte da Bica, ou de Rio Maior
A visita às salinas é sem dúvida interessante, bem como às diversas lojinhas e pequenos bares existentes, com produtos naturais da região. Depois, às seis da tarde, então sim iniciámos o regresso desta bela jornada. As velhas fotos, essas lá ficaram a contar histórias de uns "miúdos" que, há 43 anos, passaram 11 dias na pequena aldeia de Chãos, "perdida" na Serra de Candeeiros.
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