quarta-feira, 27 de maio de 2015

Já canta o cuco, na Primavera das terras da Raia...

Quando, em Fevereiro passado, trouxe os Caminheiros Gaspar Correia às terras da Raia, a minha pequena "princesa arraiana" perdeu as caminhadas, devido à gripe que a assolou naquele início de um mês que viria a ser trágico.
Vale de Espinho20.05.2015 ... um postal ilustrado de cores, sons e cheiros...
Regressados a Vale de Espinho no passado dia 16, a Primavera tinha entretanto pintado as encostas de verde, amarelo e roxo, com as giestas a dominarem a paisagem.
Com os meus "traiçoeiros" pés recuperados a mais de 90% ... eu tinha de ir mostrar à minha princesa pelo menos parte do que, em Fevereiro, tinha percorrido com os Caminheiros. Mas antes disso ... as bredas que levam a tantos lugares mágicos, que já me conhecem e fazem parte de mim, tinham de ser mais uma vez palmilhadas, sentindo as cores, sons e cheiros destas terras que um dia adoptei e me adoptaram.

Fontes Lares, 20.05 ... o meu "santuário". Estive ali quase uma hora, recebendo a energia do barroco "sagrado"...
No dia 17 e no dia 20, dois pequenos percursos levaram-me, entre outros locais, ao meu "santuário" das Fontes Lares ... onde um dia fiz o "funeral" a umas velhas botas ... e onde hoje "enterrei" um segundo par idêntico, as velhas Meindl já referidas há um ano como tendo calcorreado quase as mesmas léguas...
Para além da história e das estórias que já tinham para contar, as ruínas da velha casa das Fontes Lares, o carvalho e o freixo seculares, o barroco "sagrado", a nascente e a pequena presa ... vão sendo agora também o "cemitério" das "minhas botas velhas, cardadas", que já palmilharam "léguas sem fim"...

20.05 - As velhas Meindl lá estavam, há mais de um ano!
27.05- E hoje ficaram acompanhadas por umas irmãs...
Nos dias 21 e 23, com a minha arraiana e o primo que todos os anos vem de França para adorar o mês das maias, transformei então as duas "etapas" da caminhada de Fevereiro em dois percursos circulares, um entre o Soito e Alfaiates (dia 21) e outro entre a Rebolosa e Vilar Maior (dia 23). Na adaptação a percursos circulares usei também, com algumas variantes, o percurso da minha "maratona" de há um ano, bem como alguns troços da GR22 - a Grande Rota das aldeias históricas; daqui resultaram duas belas jornadas, acompanhadas em diversos locais pelo canto harmonioso do cuco, juntamente com outros melodiosos cantares de uma passarada alegre, nestes dias de um Maio soalheiro, mas frio e ventoso.

No carvalhal do Seixo, entre Soito e Alfaiates, 21.05, 9:37h - Os três "aventureiros" destas duas jornadas circulares
Igreja e Castelo de Alfaiates
Alfaiates - Igreja Matriz ... ou de Santiago
Barragem de Alfaiates ... com o "meu" Xalmas ao fundo, 21.05.2015
Rio Cesarão e entrada em Aldeia da Ribeira, 23.05.2015
Vilar Maior à vista
Igreja Matriz de Vilar Maior
Ruínas da Igreja de Santa Maria do Castelo
Castelo de Vilar Maior
Dominando o vale do Cesarão, com o vale do Côa ao fundo, do alto do Castelo de Vilar Maior
O dia 23, sábado, foi o menos ventoso. No regresso de Vilar Maior até já apertava o calor. Quando saciávamos a sede no chafariz de Escabralhado, fomos abordados por um simpático filho daquela aldeia de tão curioso topónimo; "querem visitar o museu?", perguntou-nos.

Escabralhado, 23.05.2015, 14:10h - Ainda há cabras...
O Museu do simpático Joaquim Manuel Pina é um espólio de antigos objectos de lavoura e outros trabalhos rurais, que herdou do seu falecido pai. E lia-se nos olhos do nosso anfitrião o orgulho em guardar e divulgar aquelas memórias, memórias que transcendem a ligação familiar para serem verdadeiramente as memórias de um povo simples e trabalhador ... o povo raiano.

No "museu" de Escabralhado, com o seu
orgulhoso conservador, Joaquim Manuel Pina
E a caminho da Rebolosa
Do Escabralhado à Rebolosa, faltava-nos acompanhar um troço da Ribeira de Alfaiates. As sombras foram bem vindas, permitindo apreciar o voo das muitas "libelinhas" que quase bailavam sobre as águas, folhas, rochas ... e pousando até no meu dedo!


Há vida, na Ribeira de Alfaiates
Pelas três e meia da tarde estávamos a entrar de novo na Rebolosa, com 21 km feitos. As duas "etapas" da caminhada de Fevereiro estavam transformadas nos dois percursos circulares que permitiram à minha arraianazinha (e ao primo Quim) conhecer mais umas terras, aldeias e gentes da sua Raia.

23.05.2015, 15:20h - De regresso à Rebolosa
Ontem e hoje, na segunda semana desta Primavera em Vale de Espinho, nova "peregrinação" levou-me às águas do Côa, aos Urejais, à Malhada Alta ... às Fontes Lares.

26.05.2015 - A velha Ponte de Vale de Espinho, que tantas gerações já viu passar
26.05.2015 - Moinho do Rato ... onde "de repente damo-nos conta que envelhecemos, a ver envelhecer estas pedras que não envelhecem..." (Sérgio Paulo Silva)
27.05.2015 - Vale da Ribeira dos Urejais
Na encosta sul do vale da ribeira dos Urejais descobri um estranho sulco na terra, quase uma autêntica "caverna" aberta, que me era desconhecida. Mesmo próximo de casa ... estamos sempre a fazer novas descobertas...

O "rasgão misterioso", na encosta sul do vale dos Urejais
Perto da Malhada Alta, tive a sorte de ver e fotografar uma simpática raposa. Absorta nos seus pensamentos, não deu por mim até que lhe assobiei.

Não é todos os dias que se vê e fotografa uma raposa...
Geodésico da Malhada Alta (1005m alt.)
E nas Fontes Lares ... lá ficaram as minhas segundas velhas Meindl ... a contar às e a ouvir das primeiras as histórias e estórias das "aventuras" que ambas viveram nos meus pés ... por fragas e pragas...

"Descansando" primeiro no barroco "sagrado", as minhas
velhas botas lá ficaram depois, a fazer companhia às irmãs!
Adeus ... "minhas botas velhas, cardadas ...."
Adeus Fontes Lares ... até qualquer dia...

1 comentário:

Aurora Martins Madaleno disse...

Já tinha apreciado algumas das fotos. Agora, juntas ao texto, ganharam sonoridade. É sempre bom, agradável, deixar voar a imaginação e acompanhar estes passeios pela Natureza e lugares com mística. Obrigada. Guardei a imagem da libelinha azul, recordando o fascínio que as libelinhas exerciam em mim menina. Lindas!