domingo, 22 de junho de 2014

Por terras de Castelo de Vide

Às 11 horas e 51 minutos de 21 de Junho (10h51m UTC) ... entrámos no verão. Em 2013 estávamos, eu e a minha arraiana, no Festival Solstício, na Serra da Gardunha; este ano, comemoramos a maior declinação do Sol em terras de Castelo de Vide, com a "família" caminheira Gaspar Correia.
Portagem, 21.06.2014
A meio da manhã estávamos na Portagem, às portas do Parque Natural da Serra de S. Mamede e à vista de Marvão. O topónimo "Portagem" terá vindo dos Judeus expulsos de Espanha pelos Reis Católicos, que, para entrarem em Portugal pela ponte velha ainda existente no local, pagavam a "portagem".
A nossa caminhada desenvolveu-se inicialmente no sentido leste - oeste, cruzando a Serra a poente de Marvão, na linha de espigões rochosos da Cabeira. A subida à Penha do Alto proporcionou belas panorâmicas para leste e sul, com os declives da Serra de S. Mamede sob nuvens que ameaçavam verter alguma água que, contudo, não se concretizou.

Panorâmica da Penha do Alto (826m alt.)
Geodésico do Lobo
E ... há que descer!

Entre muros, a caminho da aldeia de Carreiras
Almoçámos no Largo do Rossio da aldeia de Carreiras, a partir da qual tomámos o rumo norte, em direcção a Castelo de Vide. O percurso segue uma bem conservada calçada medieval granítica, por entre oliveiras, sobreiros e carvalhos; a panorâmica abria-se agora para poente.

Carreiras, junto à Fonte Santa
E ao longo da calçada medieval, descendo para o Monte Marujo ...
... por entre oliveiras, sobreiros e carvalhos
Fonte de Mergulho de Água-Todo-o-Ano
Ao longo da calçada medieval (séc.s XII-XIII) é curiosa - e rara no Alentejo - a convivência no mesmo espaço de carvalhos e sobreiros. Um numeroso rebanho de cabras pastava na encosta, enquanto subíamos agora para o cruzamento da Senhora da Penha, já à vista de Castelo de Vide e das cristas quartzíticas bem recortadas na paisagem.

Cruzamento da Senhora da Penha,
com Castelo de Vide à vista
Cristas quartzíticas a sudeste da Senhora da Penha
Castelo de Vide
Descida para Castelo de Vide,
vigiados pela Senhora da Penha
A meio da tarde estávamos em Castelo de Vide. A "Sintra do Alentejo", como a vetusta vila é conhecida, recebeu-nos para o fim de dia e noite, sendo o domingo reservado para visitas mais turísticas e culturais, através de um pequeno percurso pedonal em Portalegre e nas ruínas da cidade romana de Ammaia.

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Miradouro de Portalegre, 22.6.2014, 9:45h
O Rio Sever na Portagem ... ao lado da mesa do almoço...
Ponte Velha da Portagem
Cidade romana
de Ammaia

sábado, 14 de junho de 2014

Os Cavaleiros da Nuvem de Pó...

Palmela - Sesimbra ... 32km em dia de alerta vermelho...
Há já uns meses que um companheiro das "grandes aventuras" pedestres havia lançado para o dia 14 de Junho o desafio para uma grande jornada de travessia completa da Arrábida, de Palmela ao Cabo Espichel. Seriam sensivelmente 50km de marcha rápida.
Palmela, 14.Jun. - O Sol vai nascer ... para um dia escaldante!
Pois é ... o que há uns meses não se sabia era que o dia 14 de Junho ia ser um dia escaldante, com a temperatura a ultrapassar os 40ºC em vários pontos do país...! Mas mesmo assim, nove "heróis" responderam à chamada e, antes das seis da manhã, estávamos na baixa de Palmela ... armados "cavaleiros da nuvem de pó", como o nosso "mestre" havia já chamado à "aventura"...J
A ideia era, naturalmente, fazer o máximo da jornada da parte da manhã, enquanto o fresco, que já não era muito fresco, permitisse um andamento rápido. E assim, rapidamente, as Serras do Louro e de S. Francisco foram ficando para trás, à boa média de quase 6 km/h...

Na Serra do Louro, o Sol já se levantou ...
... mas a Lua ainda ilumina a Serra do Louro
Serra de S. Francisco, a chegar ao Alto das Necessidades
Com sensivelmente 10 km percorridos, às 8h estávamos no já velho conhecido Moinho do Cuco, com as habituais panorâmicas para norte e para sul ... e com o calor a começar a apertar. O objectivo era agora o Parque de Campismo de Picheleiros, onde fizemos a primeira paragem para um pequeno descanso e café.

Formosinho à vista...
Primeira "etapa" cumprida: Parque dos Picheleiros
No Parque dos Picheleiros ... um dos 9 "cavaleiros" (por mero acaso o autor destas linhas...J) sugeriu incluirmos o cume do Formosinho no nosso percurso. Ideia aceite por todos ... aí começamos nós a subir a serra; pelo menos estávamos à sombra, por entre frondosa vegetação. Mas ... a sombra não "tapava" o esforço da subida; um companheiro começou a acusar demasiado o cansaço acumulado, pelo que abortámos o objectivo e inflectimos de novo para oeste, rumo aos Casais da Serra.

Rumo ao Formosinho,
à sombra de frondosa vegetação
O "Castelo dos Mouros", em plena encosta norte da Serra da Arrábida
Com 24 km percorridos, às 11:45h estávamos no "Café Graciano", no Boeiro, perto da aldeia de Pedreiras. O "Graciano" ... pareceu-nos um oásis no "deserto" escaldante que tínhamos atravessado desde os Casais da Serra. Três quartos de hora para almoço, descanso, reposição de sais (leia-se imperiais, que também acabam em "ais"...J) ... e partida para a cumeada do Cabo de Ares. Partida ... mas reduzidos a oito; um táxi chamado ao "Graciano" levou mais cedo para paragens mais frescas o nosso companheiro que já havia acusado o esforço.

Café "Graciano", em Boeiro ... um oásis no deserto...J
E ... nova "corrida" para a cumeada do Cabo de Ares
A esperança de que na cumeada junto ao mar a brisa marítima refrescasse um pouco os ares ... rapidamente se dissipou. O Sol estava a pino e o ambiente era escaldante. Três dos oito que restávamos "declararam" que iriam ficar-se por Sesimbra; e também a única "cavaleira" do grupo, embora bem habituada a provas duras, começou também a ressentir-se da desidratação. Numa pequena paragem à muito pequena sombra de um carrasco, um "shot" de sais na água arrebitou-a felizmente para o "mergulho" sobre Sesimbra, a partir do Alto da Califórnia. E às três e meia da tarde, com de certeza quase 40ºC ... chegávamos à tão desejada vila piscatória. Quem nos via passar, transpirados, de mochilas às costas e bastões nas mãos ... olháva-nos como se fôssemos extra-terrestres...J

Um "mergulho" sobre Sesimbra ... onde o bom senso ditou que abortássemos o resto da jornada
E em Sesimbra, com 32 km percorridos ... demos por finda a "aventura". Prosseguir até ao Cabo Espichel, apenas com 5 dos 9 que tínhamos começado, à hora do maior calor, correndo o risco de mais e mais graves "baixas" ... ultrapassaria os limites do bom senso. As águas do mar de Sesimbra refrescaram a maioria dos corpos sedentos de fresco ... e uma das esplanadas marginais também...J. Duas amigas que estava combinado irem buscar-nos ao Espichel ... foram buscar-nos a Sesimbra ... e a travessia Palmela - Espichel ficará para alturas de clima mais ameno. Foi de qualquer modo, apesar de tudo ... mais uma "aventura" para o rol das nossas grandes jornadas pedestres.

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sexta-feira, 6 de junho de 2014

Dois dias no coração de Somiedo (2)

Estávamos a chegar ao fim de 5 dias mágicos, nas terras mágicas de Somiedo. Para despedida do paraíso, deixei para o fim o ex-libris do Parque Natural, os Lagos de Saliencia, ou Lagos de Somiedo ... mas complementados de acordo com a veia montanheira do fabuloso grupo de amigos que respondeu ao desafio que lhes havia lançado...J
O maciço das Ubiñas do Alto de La Farrapona, 5.Junho.2014

Lagos e Picos de Somiedo
Pouco depois das nove da manhã estávamos no Alto de La Farrapona, a 1708 metros de altitude, no limite entre Astúrias e Leão, mais uma vez com uma esplêndida manhã de Sol, que nos mostrava o maciço das Ubiñas em todo o seu esplendor, recortado no céu azul. O objectivo era ambicioso: começar pelo já tantas vezes trilhado PR-15 (a ruta de los lagos), mas subir depois próximo dos cumes dos Picos Albos e ligar este percurso ao que fiz em Outubro passado, vindo de La Cueta de Babia ... pela paisagem "lunar" das Morteras e pelo cume de Peña Orniz, descendo depois pela vertente leonesa e regressando por La Paredina e pela braña de Murias Llongas. A quantidade de neve e a progressão geral ditariam a gestão da caminhada.

O imponente Vale de Saliencia
Lago de La Cueva, o primeiro dos grandes lagos de altitude de Somiedo
Sobre o Lago Negro, ou de Calabazosa
Veigas e Lago
de Cerveiriz
Os três primeiros lagos - Cueva, Calabazosa e Cerveiriz - constituem logo um fabuloso cartão de visita para qualquer amante dos grandes espaços. Mas a "aventura" propriamente dita ia começar a seguir: dos 1700 metros de altitude das veigas de Cerveiriz ... havia que trepar em arco para sul, para a base dos Picos Albos, perto dos 2000 metros. Ao subi-la, levando desta vez o "bando" de amigos adultos que me acompanhavam, revivi a mesma trepada feita com um "bando" de alunos, em Abril de 2002 ... já lá vão 12 anos...! Hoje como ontem ... a sensação é de liberdade sublime...

Lagos de Cerveiriz e de Calabazosa, da encosta norte dos Picos Albos
Laguna de Cebolléu
O mundo vai ficando aos nossos pés...
Sobre as Morteras del Valle, a 1970 metros de altitude, a apontar para Peña Orniz (2191m alt.)
Pouco depois do meio dia estávamos a 1980 metros de altitude, entre os dois Picos Albos, Ocidental e Oriental, com o Pico Rubio à nossa frente e o maciço de Peña Orniz do outro lado da impressionante depressão de Las Morteras. A neve não era muita, nem parecia impedir-nos a projectada ascensão a Peña Orniz ... mas ainda faltava descer à Majada del Couto, a maior zona plana das Morteras ... para vermos abrir-se-nos a janela do paraíso, para a "vista aérea" do Lago del Valle...

Majada El Couto (1780m alt.)
E de repente, ao fundo desta senda ...
... abre-se a janela para o paraíso!...
"Vista aérea" do Lago del Valle e do vale do Rio del Lago
Esta é sem dúvida a mais fabulosa abordagem ao Lago del Valle, o maior lago de Somiedo e de toda a cordilheira cantábrica. O miradouro natural situa-se no ponto chamado El Pedregal, a 1770 metros de altitude, mais de 200 metros acima das águas. Foi naturalmente aqui o ponto escolhido para o almoço, no êxtase da contemplação desta fabulosa panorâmica e da sensação de quão pequenos nós somos.

Mas tínhamos de deixar aquela "janela panorâmica" ...
... com as camurças a vigiarem a nossa progressão
e despedindo-nos dos Picos Albos
Do "miradouro" do Lago del Valle poderíamos descer directamente ao vale. Duas companheiras optaram aliás por essa via mais simples, reencontrando-nos no final do percurso. Os restantes 23 "aventureiros", completámos a travessia das Morteras no sentido NE/SW; o bom senso ditava contudo que já não era cedo para fazermos a ascensão a Peña Orniz ... que seguramente lá continuará a dominar estas terras de sonho; a alternativa de atravessar o Collado de La Mortera ia poupar bastante tempo. Como compensação do cancelamento de Peña Orniz, optei no entanto por levar o grupo pelos Picos de La Mortera, numa distância idêntica e com pouco mais esforço físico.

Dominando a paisagem "lunar" de Las Morteras, com o Pico Albo E à esquerda e o maciço de Peña Orniz à direita
Os Picos de La Mortera abriram-nos de novo os horizontes: para norte e nordeste, a paisagem "lunar" de onde vínhamos; para sul e sudoeste ... terras leonesas, as espectaculares Fuentes del Sil e o vale das Praderas de Cebolléu, com La Cueta de Babia no fundo do vale, onde ainda em Outubro passado iniciei a espectacular travessia Babia - Somiedo ... só acompanhado pelo "meu" Mastín...J

Picos de La Mortera

Dominando os céus e a terra, a 2001 metros de altitude
O fabuloso vale do Alto Sil, do cimo de La Mortera (2001m alt.)
E descida para terras leonesas de Babia
Durante cerca de uma hora atravessámos as terras leonesas do alto Sil, rumo ao Collado de La Paredina, em que voltaríamos a entrar em Somiedo e nas Astúrias. Restava-nos descer à braña de Murias Llongas (ou Murias Xongas) ... e ao Lago del Valle, que tínhamos visto 200 metros acima...

Collado de La Paredina, "fronteira" Leão / Astúrias
Braña de Murias Llongas, ou Murias Xongas
E ... o Lago del Valle era finalmente "nosso"...J
Chegados ao Lago del Valle pelas cinco da tarde, transbordávamos de felicidade pelo paraíso de onde tínhamos descido. Mas ... faltavam ainda seis quilómetros para o fim, na aldeia de Valle de Lago, fáceis, por estradão ... mas não menos maravilhosos, ao longo do fabuloso vale do Rio del Lago.

Ao longo do vale do Rio del Lago, do Lago del Valle a Valle de Lago
Peña Furada e Valle de Lago ... no final de uma inesquecível semana em terras do paraíso!
No final? Não! Regressados no autocarro ao Albergue de Saliencia, esperava-nos ainda outra noite "mágica". Os nossos anfitriões Laly e José tinham-nos preparado uma típica espicha asturiana, a festa da sidra, ao som de música tradicional e repondo energias com as mais diversas iguarias. E não podia faltar o mais típico dos queijos asturianos, amado por uns ... "amaldiçoado" por outros; estamos a falar, claro ... do queijo de Cabrales J!

À luz da Lua que espreita pela velha igreja da aldeia ...

... una tipica espicha asturiana no Albergue de Saliencia!
      
Lagos e Picos de Somiedo (Álbum completo)

Albergue de Saliencia, 6.Junho.2014: chegou a hora do adeus ... pero sin duda volveremos una y otra ves...J
Sexta feira era, infelizmente ... o dia de um longo coming home...! O paraíso continua no entanto lá ... e no pensamento de todos os que participaram nesta semana "mágica" já paira Somiedo II ... em que subiremos seguramente a Peña Orniz...J. Para já, ficam as recordações de 7 dias passados em conjunto ... de 5 dias vividos no paraíso! Fica o reviver dos belos momentos passados, as vivências e as convivências, a construção e fortalecimento das amizades. Obrigado, companheiros!