domingo, 25 de maio de 2014

GeoRota de Orvalho e da Ribeira de Água d'Alta

A minha "família" caminheira Gaspar Correia levou-me ontem à GeoRota da aldeia de Orvalho, nos confins do interior do distrito de Castelo Branco, concelho de Oleiros.
Igreja Matriz de Orvalho
Encaixadas entre as Serras de Alvelos e do Moradal, a sul, e a Serra do Açor, a norte, próximas do vale do Zêzere e inseridas no Geopark Naturtejo da Meseta Meridional, as terras de Orvalho constituem um excelente tónico para uma fuga ao stress. A região é de uma beleza incontornável, por entre afloramentos rochosos excepcionais, o correr das águas das ribeiras e das nascentes de montanha, ao som de melodiosos cantares da passarada. Nas encostas íngremes domina o pinheiro bravo - estamos bem no pinhal interior - e algumas manchas de oliveira, medronheiro e, mais dispersa, a azinheira e o sobreiro.
Por Abrantes e Sertã, chegar a Orvalho não é fácil. A orografia da região obriga a aumentar substancialmente o tempo de viagem ... e a conter os estômagos mais aziagos às curvas e contracurvas sucessivas. O meu ... já viu melhores dias do que na manhã de ontem, no autocarro; particularmente entre Oleiros e Orvalho ... qualquer movimento mais repentino poderia ter "entornado" a situação...J
Mas pelas onze e meia da manhã estávamos felizmente a iniciar a actividade pedestre, nas ruas da aldeia que dá o nome à GeoRota. A própria fisionomia de Orvalho é bem típica de uma aldeia daquele interior "perdido" nos confins.

Rumo à Ribeira de Orvalho
O almoço foi junto à Ribeira de Água d'Alta, depois de termos cruzado também as ribeiras de Orvalho e da Presa. Mas mal sabíamos nós o paraíso que íamos encontrar ao longo da Ribeira de Água d'Alto. O percurso sobe gradualmente o curso desta, por entre vegetação exuberante e ao som das águas cristalinas, até chegarmos à base das cascatas da Fraga de Água d'Alta.

Ruínas de velhos moinhos de água,
na Ribeira de Água d'Alta
O paraíso ao longo do curso da Ribeira de Água d'Alta
As cascatas da Fraga de Água d'Alta são 25 metros de desnível, vencidos por uma sucessão de três véus de água turbulenta e crepitante. Da base, os efeitos da água são maravilhosos, no meio do denso bosque onde corre a ribeira. Subindo o curso, chega-se a um miradouro já perto da estrada, de onde se admira a muralha quartzítica que dele como que emerge.

Cascatas da Fraga de Água d'Alto: a magia da água e do verde...
Subindo as fragas...
Muralha quartzítica da Fraga de Água d'Alto Ú
Contornando a cabeceira da ribeira e o morro da Senhora da Confiança, rumámos depois ao Cabeço do Mosqueiro, a noroeste de Orvalho. A subida é íngreme, mas o esforço compensa. À medida que se ganha altitude os horizontes vão-se abrindo. Do miradouro em madeira, aos 590 metros de altitude, debruçamo-nos sobre a aldeia, já com a Serra da Estrela a norte. Mais cerca de 80 metros de desnível e chegamos ao bem cuidado parque de merendas do Mosqueiro, no topo do cabeço rochoso, que mais parece um castelo. E aqui ... temos panorâmica 360º em redor! Para norte, abre-se o vale do Zêzere, serpenteando entre as aldeias de Janeiro de Baixo e Janeiro de Cima, com as Serras da Estrela e do Açor como pano de fundo; na Estrela, notava-se ainda a neve do último nevão neste quase fim de Maio.

Subida ao Miradouro do Mosqueiro
Orvalho, do Miradouro do Mosqueiro
Serra da Estrela à vista
Parque de Merendas no
Cabeço do Mosqueiro (666m alt.)
Um olhar atento ...
... sobre o vale do Zêzere, com as aldeias de Janeiro de Baixo e Janeiro de Cima aos nossos pés
E do cume do Mosqueiro descemos a Orvalho. A caminhada não foi longa, apenas pouco mais de 10 quilómetros, mas a GeoRota de Orvalho vale bem a pena ... deixando até o apetite aberto para a exploração de outros percursos, nesta zona "perdida" do pinhal interior. Talvez até, um dia ... a descida pedestre do grande curso do Zêzere...
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domingo, 18 de maio de 2014

"Romagem" às Fontes Lares, Guisias e Urejais

Em Maio do ano passado, dois filhos "biológicos" de Vale de Espinho dinamizaram uma "romagem" às terras do Vale da Maria e da Fonte Moira, para a qual me pediram que delineasse o percurso e guiasse o grupo, de naturais e amigos da aldeia. Como então escrevi, foi a nostalgia de quem viveu os tempos em que estas terras tinham vida, gente, trabalho, suor.
17.05.2014, 9:00h - Partida para a II Caminhada de Primavera
em Vale de Espinho
Este ano, na mesma altura de um mês de Maio pintado, como é "de lei", pelo amarelo das maias que cobrem as encostas, voltaram a ter a mesma iniciativa ... e voltaram a "convocar-me". No ano passado levei-os para sul, cruzando o Côa; este ano tracei um percurso a norte ... incluindo as mágicas Fontes Lares.
Às nove da manhã de ontem, mais de meia centena de naturais e amigos de Vale de Espinho, alguns deles vindos da capital e de outras zonas, estavam assim a partir do Largo das Eiras, pela rua do Cabeludo. Cruzado o Ribeiro da Presa, rumámos aos "Nheres" (Linhares) e às Fontes Lares. A velhinha Quelhe das Pedras traria mais memórias, mas seria um trajecto complicado para um grupo tão grande e diversificado ... até porque desta vez também participou na caminhada um burro, com a sua albarda ... para se fosse preciso trazer alguém...J

O jerico também vai à caminhada...J
Aqui ficou para a eternidade uma "bordigueira"...
E lá vamos, rumo ao Ribeiro da Presa e aos "Nheres"
Uma hora e vinte minutos depois estávamos nas "minhas" Fontes Lares. Para além das raízes familiares da minha "pequena arraiana", claro que outro "motivo de atracção" com que aquele mágico local passou a contar desde Março ... é o "monumento" às minhas velhas botas Meindl, erigidas no alto das ruínas da velha casa...J

Fontes Lares ... onde um dia se fez o "funeral" de umas botas...J
Das Fontes Lares descemos às Guisias. E se as Fontes Lares são "mágicas" pelas ligações familiares da minha "pequena arraiana", as Guisias são-no para um dos organizadores destas caminhadas nostálgicas. Por lá comemos a merenda que levámos, não muito longe d'"o meu estimado e adorado mostageiro … para mim é a árvore mais emblemática das Guisias" (José Manuel Corceiro, 24.03.2012).

A caminho das Guisias
"Lá continua o mostageiro saudável e em pé, à minha
espera para o voltar a trepar…" (José Manuel Corceiro)
Após a merenda, e à semelhança do ano passado, fizeram-se ouvir as vozes de diversos convivas, entoando animadas cantigas e havendo lugar, também, a uma pequena introspecção religiosa, já que a caminhada contou também com a presença do pároco auxiliar de Vale de Espinho.

Leituras e cantorias ... convívio!
E seguimos pela Coba Grande
Seguiu-se a parte alta da Cova Grande, com belas panorâmicas para a Coba, o outeiro das Cabeças, a Serra da Malcata para lá do vale onde se situa Vale de Espinho. Na ladeira, restam vestígios da antiga pedreira de onde foi retirada a pedra para muitas das casas da aldeia, mas também um belo chão de pão (centeio), a lembrar os campos a perder de vista de antigamente.

Coba Grande e a Malcata ao fundo. Vestígios das pedreiras de Vale de Espinho
Aqui há vida e cor!
Já há "sortes" de "pão", ondulando ao vento...
Chegados ao cruzeiro da Có Pequena, parte do grupo já sentia as pernas cansadas e optou por descer o velho caminho do Areeiro, directamente de regresso às suas casas. O burro, cujos serviços não foram necessários, recolheu também a casa, até porque lhe seria difícil a parte do percurso que faltava, pelos Urejais e Barroco do Sino. Descemos o caminho velho do Soito até meio da ladeira, inflectindo depois para poente e atravessando a ribeira debaixo mesmo do maciço granítico onde se situa aquele e outros originais barrocos.

Travessia da Ribeira dos Urejais
Barroco do Sino
Memórias perdidas no tempo...
No regresso, cometi o erro de confiar na "sabedoria" de um Valespinhense...J. "O caminho é ali em cima", dizia; eu achava que não era ... mas ele é que é filho "biológico" destas terras. Passado pouco tempo estávamos no meio do mato, tendo que o "furar" para apanharmos o caminho correcto que, como eu lhe havia dito ... estava ali em baixo...J. Uma coisa é conhecer os montes como eles se nos apresentam hoje ... outra é como os conheciam há 15, 20, 30 e mais anos...
Pelo caminho correcto, voltámos a atravessar a Ribeira dos Urejais, seguindo-se a travessia do frondoso carvalhal da Fieiteira. Subida bem empinada ... mas pouco passava das três da tarde quando o grupo entrou em Vale de Espinho, com mais esta bela jornada vivida em convívio e alegria.

Lameiros junto à Ribeira dos Urejais
E pronto ... só falta subir o carvalhal da Fieiteira
No início, de manhã, antes da partida, todo o grupo guardou um minuto de silêncio, à memória de um dos filhos da terra que, há 5 meses atrás, partiu em terras de França para uma viagem sem regresso. As suas cinzas foram depositadas na campa dos pais, cumprindo assim a sua vontade. Por ironia do destino, era ele também um adepto das caminhadas, que praticou enquanto pode, na sua França adoptiva. O Vital Malhadinhas, figura carismática em Vale de Espinho ... era irmão do meu querido e saudoso sogro, levado pela mesma praga já lá vão 11 longos anos...
Cumprindo igualmente a sua vontade, depois das exéquias os filhos organizaram um lanche na casa que era a dele, aberto a todos quantos quiseram comparecer. E que contente ele esteve, certamente, ao assistir do além àquele convívio que se gerou na sua casa ... e ao qual se seguiu um outro, na Associação dos Amigos de Vale de Espinho, para todos os participantes nesta 2ª Caminhada de Primavera Valespinhense.

No convívio dos participantes na caminhada, uma oferta 
de uma Valespinhense para todos os Valespinhenses
   
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terça-feira, 13 de maio de 2014

"Maratona" pelas aldeias da raia

Vale de Espinho - Alfaiates - Aldeia da Ponte - Vilar Maior - Bismula - Nave - Soito - Vale de Espinho (57 km)
Eram cinco e meia da manhã, ontem. Noite escura ainda, mas com as primeiras alvuras do dia que se aproximava já bastantes para me iluminar o caminho. De Vale de Espinho, pelo Cabeludo e subindo ao outeiro das Cabeças e à Canada, ataquei a serra a boa velocidade, deixando à direita o caminho das Fontes Lares.
12.Maio.2014, 6:25h - O Sol nasce no Homem de Pedra,
atrás da Cordilheira da Peña de Francia e da Gata
O cuco também já se tinha levantado, cantando alegremente o magnífico dia de Primavera que despontava, como que batendo as horas ao ritmo dos meus passos. E uma hora depois estava na cumeada da serra, a 1138 metros de altitude, entre o Cabeço Melhano e o Homem de Pedra. 360º à volta, as cores do nascer do dia pintavam as colinas e os vales. O Sol já se havia levantado há 15 minutos, mas só agora despontava por trás das serranias castelhanas, da Peña de Francia à Gata e ao meu Xalmas.
Objectivo desta partida madrugadora: uma longa jornada que seguramente ultrapassaria os 50 km! Nas minhas deambulações pela raia, imperdoavelmente não conhecia a aldeia histórica de Vilar Maior, um dos mais importantes castelos das terras de Riba Côa. E mesmo Alfaiates e o seu castelo, também praticamente só conhecia de passagem. Ora … achei que era chegada a hora de rumar a norte, com Vilar Maior como destino. Mas claro que não o iria fazer pelas estradas, pelo que nas vésperas estudei as velhas cartas topográficas do exército, delineando o percurso o mais possível pelos antigos caminhos que ligavam as várias aldeias a atravessar.
Há uma hora atrás, tinha começado uma
"maratona" por aldeias e terras raianas...
E assim, descendo já a encosta norte da Serra do Homem de Pedra, passei a leste do Soito e da Senhora da Granja, para me embrenhar num frondoso e magnífico carvalhal, rumo a Alfaiates. Cruzei a muito jovem ribeira que herdou o nome da vila, e já com Alfaiates à vista encontrei uma placa dos recentemente criados PRs da Câmara do Sabugal, indicando a existência de "sepulturas antropomórficas" a 900 metros. O desvio não era portanto grande, decidi ir conhecê-las; acabei por fazer mais de um quilómetro fora do rumo que levava … mas não encontrei nem as sepulturas nem mais qualquer placa indicativa de nada...

A caminho de Alfaiates, por belo e frondoso bosque
Bom dia...!
Às oito e um quarto estava a entrar em Alfaiates, com pouco mais de 16 km percorridos em menos de três horas, à boa média de 5,8 km/h. O reforço de um pequeno-almoço madrugador foi à porta de um café fechado … mas que entretanto abriu e permitiu um bom café despertador.

Alfaiates e o seu Castelo e Cerca
O Castelo de Alfaiates situa-se no centro da vila, não sendo facilmente visto de fora. Na fachada principal encontra-se o brasão de D. Manuel, entre duas esferas armilares. As muralhas complementam-se com o que resta da velha cerca do século XVII.
De Alfaiates poderia seguir directamente para norte, pela Rebolosa. Mas quis fazer uma surpresa a um amigo da minha "família" caminheira e ir à sua Aldeia da Ponte, passando portanto, claro, pelo Santuário de Nossa Senhora da Sacaparte. Antes das dez horas estava assim junto à ponte romana de Aldeia da Ponte, de onde lhe enviei uma foto … a convidá-lo a retribuir com uma "peregrinação" a pé a Vale de Espinho...J
Ruínas de Nossa
Senhora da Sacaparte
Ponte romana de Aldeia da Ponte, sobre o Rio Cesarão
E de novo o Cesarão, agora por pontão de poldras
Cruzado o Rio Cesarão precisamente pela ponte romana, atravessei a parte sul da aldeia para depois rumar a noroeste, junto ao cemitério, atravessando de novo o rio por velho pontão de poldras. O destino seguinte era a aldeia com o original nome de Escabralhado, atravessando campos pintados de verde, amarelo e lilás, sempre acompanhado pelo canto melodioso da passarada. Escabralhado parecia uma aldeia fantasma. Casas em ruínas, outras de pé mas de portadas fechadas e sem ninguém. Únicos habitantes que vi … um modesto rebanho de cabras, guardadas por pastora de pele enrugada pelo peso dos anos e da vida. Ainda não eram onze e meia … mas um "ratinho" aconselhava a uma pausa para almoço, tanto mais que havia uma fonte de água fresca e deliciosa … e já moravam 28 km nos pés!

Campos floridos, ao som do cantar da passarada,
entre Aldeia da Ponte e Escabralhado
Escabralhado: ainda há cabras e pastores...

Quantos carros de bois passaram nestas pedras?...
De Escabralhado a Vilar Maior, quando atravessei a estrada que leva a Aldeia da Ribeira, um táxi estava estacionado junto a um terreno onde pastavam as vacas. Estas certamente não precisavam dos serviços do taxista que as guardava … e que me disse "é a vida, a gente aqui tem de fazer de tudo". Também me aconselhou a chegar a Vilar Maior pela estrada, que "o caminho velho está muito mau" … mas perseverante como sou confiei nas velhas cartas … sabendo embora que em muitos sítios elas estão muito desactualizadas. Mas tirando um pequeno troço em que as silvas me obrigaram a ir pelos terrenos adjacentes ao caminho, dei por bem escolhida a opção. Pouco depois tinha Vilar Maior no horizonte, com o seu Castelo obedecendo mais à imagem que temos dos castelos, no cimo de morros altaneiros.

Campos de Primavera, a caminho de Vilar Maior
E Vilar Maior à vista
Mas antes do Castelo de Vilar Maior, voltei a atravessar por duas vezes o Cesarão, aos pés da vila, a segunda travessia pela ponte medieval que datará do século XIII ou XIV. Depois … foi subir a bom subir para a Igreja Matriz de S. Pedro, dos finais do século XVII, e para o Castelo aos pés do qual se situam as ruínas da Igreja de Santa Maria do Castelo.

Ponte medieval de Vilar Maior
Rio Cesarão, agora em Vilar Maior
Igreja Matriz de S. Pedro, Vilar Maior
Na sua estrutura actual, o Castelo de Vilar Maior data de 1296, quando D. Dinis conquistou a vila. Subindo às muralhas, tem-se uma bela panorâmica das terras em redor, nomeadamente do vale do Cesarão, para norte, percebendo-se ao fundo o vale do Côa, no qual verte as suas águas, já depois de se juntar à Ribeira de Alfaiates.

Castelo de Vilar Maior
Cisterna no Castelo de Vilar Maior
Vista para norte, percebendo-se ao fundo o vale do Côa
Vista para sul: muralhas e Torre de Menagem
Toda a vila de Vilar Maior tem um ar cuidado e acolhedor. O largo central, aos pés da colina do Castelo, convida a um descanso mais prolongado, na esplanada do bom Bar "A Gata" … onde uma boa imperial matou a sede. Pouco depois, mais à frente … lá estava de novo o meu "amigo" taxista e guardador de gado, agora à porta de casa. "Venha cá beber uma boa jeropiga", convidou. Tive de recusar, alegando precisamente ter acabado de beber a imperial; "ainda tenho muito que andar, depois troco os passos", justifiquei…

Vilar Maior, uma vila acolhedora e bem cuidada

Pelourinho de Vilar Maior
    
Passavam 15 minutos da uma da tarde quando deixei Vilar Maior. Tinha palmilhado 33 km … deveriam faltar-me quase 30…! Entre Vilar Maior e a Bismula, as cartas não me mostravam caminhos "aproveitáveis" para uma jornada deste género. Embora fastidiosos, os 5 km entre as duas povoações foram a única ligação em que optei pela estrada, atravessando a Ribeira de Alfaiates já pouco antes de subir para a Bismula. Vendo-me na estrada, a boa velocidade, com dois bastões de caminhada, um casal no amanho da terra perguntou-me: "vai para Fátima?"; não me dando tempo para a resposta, complementaram logo: "mas já lá não chega amanhã, por não?". Realmente, chegar da Bismula a Fátima hoje, 13 de Maio … penso que seria humanamente impossível...J
Ribeira de Alfaiates, entre Vilar Maior e Bismula

E na Bismula ... o encontro com uma "loirinha" fresquinha...J
A tarde estava quente … e que bem soube ver aparecer, na Bismula, o convidativo "Café Martinho" … e que bem soube outra "loirinha" com que nele refresquei as entranhas…! E da Bismula à Nave abandonei de novo a estrada, passando a poente de Aldeia da Dona, até ao sítio dos Olheirões.

Bismula - Nave ...
com o Xalmas sempre atento
Quatro da tarde. Nave era a penúltima "etapa", em termos de povoações atravessadas. Tinha quase 45 km feitos. Com algumas dúvidas, ocorreu-me várias vezes, ao longo desta longa jornada, que iria bater o meu record pessoal de distância percorrida num dia (62 km), mas estava enganado para menos acerca do percurso Nave – Soito – Vale de Espinho. Se fosse por Quadrazais, talvez fossem os 17 km que faltavam para o igualar, mas preferi, naturalmente, o caminho mais curto, pelos velhos caminhos tantas vezes usados pelas populações nos verdadeiros anos da miséria e da grande luta pela vida.


Nave
   
Cruzando a Ribeira da Nave, entrei no Soito pelo alto de S. Brás, junto ao Cruzeiro e à réplica do Cristo Rei. E do Soito a Vale de Espinho já era caminho meu conhecido, o velho caminho que sobe à Malhada Alta e aos Urejais.

Soito ... a última etapa
desta longa jornada
Urejais ... no
reino da pedra...
O velho caminho do Soito a Vale de Espinho é um caminho pedregoso, dorido, sofrido … pelo menos pelas gentes de Vale de Espinho que a ele tinham de recorrer, quando estradas não havia, quando era preciso ir ao Soito, às compras, ao médico, às necessidades de uma vida dura. Ao longo daquele caminho, passaram por mim imagens de alguém a percorrê-lo, com uma criança de meses nos braços, doente, para ir ao Soito levar injecções de soro, a mesma criança que, nascida de sete meses no inverno de 1952, cabia numa caixa de sapatos junto à lareira, único local onde o calor lhe proporcionava o sono reparador, à luz do lume e de um velho candeeiro de petróleo.
Esse alguém a percorrer o velho caminho do Soito era a mãe, as tias, as avós da minha "pequena arraiana"...; a criança de meses que levavam nos braços, doente … era ela … a boa estrela que um dia veio parar aos meus, 20 anos depois … há mais de 40 anos…!

13 horas depois ... Vale de Espinho à vista. A aventura estava a terminar ... com 57 km nos pés...
O cruzeiro da Có Pequena abençoou os últimos quilómetros. Pelo Areeiro, às sete horas entrei em Vale de Espinho, com 57 quilómetros percorridos em 13 horas e meia de jornada. Não bati o meu record de distância … mas foi a maior caminhada raiana que já fiz, entre tantas e tantas nas terras do Côa, da Malcata, das Mesas, do Xalmas, da Gata … nas terras que um dia adoptei como "minhas" … nas terras que me deram a companheira que, não acompanhando estas "aventuras" mais "loucas" … me acompanha na longa e feliz caminhada da vida!
Os números desta "aventura":
Distância percorrida: 56,95 km
Tempo total: 13h 28m  -  Tempo em andamento: 12h 15m
Média geral: 4,21 km/h  -  Média em movimento: 4,65 km/h
Km mais rápido: 8º km, média de 7,31 km/h  - Km mais lento: 53º km, média de 2,55 km/h
Altitude máxima: 1138 metros  -  Altitude mínima: 721 metros
Desnível acumulado de subida: 1566m  -  Desnível acumulado de descida: -1611m
   
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