quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Nos passos do Aqueduto...

Da Mãe de Água das Amoreiras à Barragem romana de Belas
Construído no século XVIII, o Aqueduto das Águas Livres foi, na época, a maior obra de engenharia hidráulica do mundo! Destinado ao abastecimento da cidade de Lisboa, a água era captada em várias nascentes nas zonas de Belas, Carenque e Caneças e transportada ao longo de galerias e aquedutos subsidiários até ao aqueduto principal, que a conduzia até ao reservatório da Mãe de Água das Amoreiras, que abastecia então os diversos chafarizes espalhados pela cidade.
Junto à Mãe de Água das Amoreiras, 27.Fev.2014, 9:15h
Em Belas, existem vestígios de um aqueduto romano, na mesma zona onde o Aqueduto das Águas Livres tinha as suas nascentes. Pressupõe-se que o mesmo chegaria até Lisboa, para abastecer as fontes, termas e balneários romanos.
Pois bem, por iniciativa de um habitual companheiro das "aventuras" pedestres ... resolvemos seguir os passos do Aqueduto das Águas Livres, subindo o seu curso desde a Mãe de Água até Belas. Lamentavelmente, o conjunto de arcos sobre o vale de Alcântara - com perto de um quilómetro de extensão - encontra-se contudo encerrado, alegadamente por inundação devida à elevada precipitação deste inverno chuvoso, o que nos obrigou a passar o vale pela Estação da CP de Campolide. Um dos 35 arcos de Alcântara tem uma altura de 65 metros, o que faz dele o maior arco em pedra do mundo ... e talvez o mais "eficiente" nos célebres crimes de Diogo Alves, ao lançar as suas vítimas do Aqueduto.
Estamos quase no conjunto de arcos sobre o vale de Alcântara
E da estação de Campolide subimos a Monsanto, pelos Bairros da Liberdade e da Serafina. Curiosa, no mínimo, a história do nome deste bairro. Ao tempo da construção do Aqueduto, a dona de uma taberna, de seu nome Serafina, era cozinheira exímia. Durante os anos da construção era aí que almoçavam os mestres, companheiros e aprendizes que construíram esta obra notável. O próprio arquitecto ter-se-à tomado de amores pela exímia cozinheira ... dando ao bairro o nome da sua amada.

O troço principal do Aqueduto, sobre o vale de Alcântara ... de onde Diogo Alves lançava as suas vítimas...
Seguindo o Caminho da Água, passámos por trás do Palácio do Marquês de Fronteira e atravessámos a Mata de S. Domingos de Benfica. Nos meus tempos de Liceu (o meu velho Passos Manuel...), por vezes saía do comboio em S. Domingos de Benfica para respirar os ares desta frondosa mata ... há meio século atrás...
Pelas onze horas estávamos no Calhariz de Benfica, rumo à Buraca e à Damaia. Na Buraca, um simpático graffiti retrata os troços mais emblemáticos do Aqueduto, da Mãe de Água a Belas. Nós ... retratámo-nos junto a essa pintura alusiva...! São também aí visíveis os interiores dos torreões que restam desta obra de engenharia de há três séculos atrás.
Graffiti na Buraca, alusivo aos troços do Aqueduto das Águas Livres
O Aqueduto entre
a Buraca e a Damaia
Junto à Estação da CP da Damaia
A seguir ao apeadeiro da Reboleira passámos para o lado norte da linha do comboio, seguindo-se as zonas da Venda Nova e da antiga Falagueira, junto de cuja capela sobressai um dos poucos torreões do aqueduto nesta zona.

Rua das Indústrias, Venda Nova
O Aqueduto na Venda Nova ...
... e junto à Capela da Falagueira, Amadora
A Falagueira também me traz memórias de infância: algures por aqui ... já há mais de 50 anos eu atravessava o aqueduto das águas livres todos os dias, para ir para a escola primária, junto a uma torreão hoje desaparecido e a uma levada de água certamente entretanto encanada. Era a minha "peregrinação" diária de casa à escola!
E como esta foi também uma jornada de recordações dos anos de infância e adolescência em que vivi na Amadora ... os meus progenitores foram ter com os 7 "exploradores" do Aqueduto, já a seguir ao Bairro da Mina, na hoje cidade da Amadora. Quando lhes perguntei que idade achavam que tinham ... deram-lhes quase 10 anos menos do que a casa dos 90 em que estão... J.

12:30h ... e vamos a caminho de Carenque
Um primeiro reforço alimentar à saída da Amadora ... e continuamos rumo a Carenque, com diversos troços por cima mesmo do vetusto aqueduto. Deixando para trás a linha do comboio e o início do vale da ribeira de Carenque, tínhamos do outro lado o casario do Pendão e o morro do Monte Abraão, coroado pelas fragas do Povoado das Baútas, por vezes chamado o Cabeço dos Deuses, com uma ocupação que vai do Neolítico à Idade do Ferro. Também neste troço, são ainda visíveis pedaços de aqueduto romano, que se pressupõe traria as águas da barragem romana de Belas até Lisboa.
Sobre o Aqueduto, a caminho de Carenque

Vestígios do Aqueduto Romano
Dois aquedutos, a mil anos de distância no tempo...
Fragas do Povoado das
Baútas, Monte Abraão
Ao passar por baixo da CREL ... espantámo-nos com um autêntico "apartamento" improvisado, com mesa, sofá, cama e bibelots ... tendo apenas por tecto o viaduto daquela via rápida!
Sempre ao longo do Aqueduto, fomos subindo o curso da Ribeira de Carenque, até à antiga Quinta das Águas Livres, hoje sede da Unidade Especial de Polícia, da PSP. E antes das duas da tarde, com 18 quilómetros percorridos, estávamos nas ruínas da Barragem Romana de Belas.

E chegamos à Barragem Romana de Belas, na Ribeira de Carenque
A Barragem Romana de Belas, ou Barragem de Olisipo, é uma barragem romana na ribeira de Carenque, entre os concelhos da Amadora e de Sintra. Alimentava o aqueduto romano cujos vestígios tínhamos visto na zona de Carenque, que entraria em Lisboa (Olisipo) por Santo André, na zona da Graça. O que resta do muro da barragem situa-se na margem direita da ribeira. A barragem foi cortada por um ramal do Aqueduto das Águas Livres e pela estrada Carenque - Caneças.
Barragem Romana de Belas
A nordeste da barragem romana
Para norte e nordeste da Quinta das Águas Livres e da Barragem Romana, os aquedutos subsidiários do Aqueduto das Águas Livres traziam a água das nascentes de Dona Maria, Casal de Cambra, Caneças e outras. O nosso propósito, pelo menos por hoje, era, contudo, levar "a nossa água" apenas até à vetusta barragem ... até porque ainda tínhamos de regressar... J. E assim, por A-da-Beja e Casal da Mira, dirigimo-nos à área comercial a norte da Brandoa ... e às estações de Metro mais próximas. Alguns elementos do grupo apontaram para o Senhor Roubado, outros para Alfornelos ... e às 15:50h estava a terminar esta bela jornada, com pouco mais de 25 quilómetros percorridos. Viemos a saber mais tarde, contudo, que um dos "exploradores" ... foi a pé para casa, na Encarnação!!! Grande António Araújo! Parabéns!
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sábado, 15 de fevereiro de 2014

Rota dos Cromeleques e Ribeira de Valverde

Em Fevereiro e Março de 2010, entre reconhecimentos e a caminhada propriamente dita, fui por três vezes à região de Évora e dos monumentos megalíticos dos Almendres. Era, aliás, a caminhada das Bodas de Prata dos "meus" Caminheiros Gaspar Correia... J.
Guadalupe, Évora, 15.Fev.2014 - Tinha começado a jornada
Agora, 4 anos depois, voltei aos Almendres, desta vez com os também já meus habituais companheiros de grandes rotas pedestres. Partindo de Guadalupe, efectuámos um percurso linear de 24 km, com passagem por zonas de montado, em direcção ao menhir dos Almendres. Pena é que se mantenha, como há 4 anos atrás, um autêntico corredor entre arames, para chegar àquele monumento megalítico.
Do menir, continuámos para o Cromeleque dos Almendres e para o "Castelo" do Giraldo, que na realidade se trata de um castro, com origem na Idade do Bronze ou mesmo no Calcolítico, mas com vestígios de ocupações posteriores. A muralha, de que restam vestígios, terá pertencido a um período de ocupação medieval; fontes do século XV associam-na à presença de Giraldo Sem Pavor, guerreiro que conquistou Évora aos muçulmanos em 1165 ... e que agora ali tem uma original estátua.

Menhir e Cromeleque dos Almendres
   
Exercícios de levitação... J
"Gado bravo"? Só se formos nós... J
Ao longo do belo troço entre o cromeleque de Almendres e o castelo do Giraldo

Estátua de Giraldo o Sem Pavor, junto ao seu Castelo,
sobre a aldeia de Valverde
Barragem da Tourega, na Ribeira de Valverde, vista do Castelo do Giraldo
O almoço campestre foi precisamente junto ao Castelo do Giraldo ... regado com os saborosos néctares que as fotos documentam... J (ver o álbum completo). E do castelo descemos até à zona circundante de Valverde. A partir daí, o percurso era virgem também para mim; há 4 anos, tínhamos seguido directamente para Valverde. Agora, a caminhada desenvolveu-se ao longo da respectiva ribeira, em direcção à Barragem do Barrocal, ou de Nossa Senhora da Tourega.

Rumo à Ribeira de Valverde
Ao longo da margem direita da Ribeira de Valverde
Belos campos e vinhas adjacentes às margens da ribeira
Barragem do Barrocal ou da Tourega
Após a barragem invertemos a marcha ... não sem uma corajosa travessia do leito da ribeira... J. E depois da Senhora da Tourega seguimos pela margem esquerda da ribeira, de novo em direcção a Valverde, acompanhando sempre a bela paisagem de água e dos campos verdes e amarelos.

"Gloriosa" travessia do leito da ribeira
de Valverde, a jusante da barragem
Barragem do Barrocal, já na margem esquerda
Não me importava
de ser cegonha...
Nossa Senhora da Tourega
As belas paisagens da margem esquerda da ribeira de Valverde
Rápidos da Ribeira de Valverde, entre os
Moinhos do Pinheiro e da Mitra
Relíquias de um tempo que ficou perdido nos tempos...
Seguiu-se o pátio e as zonas envolventes do Convento do Bom Jesus de Valverde, mandado edificar no século XVI pelo Cardeal Infante Dom Henrique e actualmente integrado no Núcleo da Mitra da Universidade de Évora.

Pátio e zonas envolventes do
Convento do Bom Jesus de Valverde
A caminhada terminou em Valverde, para onde tínhamos levado de manhã os carros necessários.

Valverde, junto à sua ribeira, prestes a terminar a jornada
Prestes a terminar? Não ... uma vez regressados a Guadalupe, a jornada não terminou sem uma belíssima alhada de cação, confeccionada propositadamente para o nosso grupo... J. E a meteorologia, que prometia alguns aguaceiros, portou-se sempre condignamente, proporcionando-nos esta bela rota pelos campos alentejanos de Guadalupe e Valverde.

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