sábado, 25 de janeiro de 2014

Caminhada do Arquitecto, do Boco à Foz do Lizandro

Conta a lenda que, ao finalizar a sua grandiosa obra, o arquitecto responsável pela construção do Convento de Mafra terá mandado construir duas capelas, uma no ponto mais alto e outra no ponto mais baixo do concelho, respectivamente a Serra do Socorro e o vale que corre ao fundo do Longo da Vila, renomeado para Vale do Arquitecto.
Descida para o Vale do Arquitecto, Mafra, 16.Jan.2014
Outra lenda, contudo, diz que a segunda capela foi mandada construir por um pescador que, ao ver-se em perigo no mar, prometeu erguer uma ermida a Nossa Senhora do Socorro. Com base nestas lendas, a primeira caminhada do ano dos Caminheiros Gaspar Correia estava agendada para o Vale do Arquitecto, que não é mais do que o vale do chamado Rio Pequeno, uma das várias linhas de água que depois constituem o Rio Lizandro. Há pouco mais de uma semana participei no reconhecimento do percurso, que seria, como foi, entre a bucólica aldeia de Boco, na freguesia da Igreja Nova, e a Foz do Lizandro, paredes meias com a cosmopolita Ericeira.
Tanto no dia do reconhecimento como agora ... as linhas de água e os caminhos reflectiam bem a intensidade das chuvas deste inverno bem regado. Meter pés e pernas à água e "patinar" na lama foram especialidades em que nos tornámos mestres... J. Mas a beleza do percurso vale bem as agruras impostas pela meteorologia.

Capela da Senhora do Arquitecto, 16.Jan.2014

"Catedrais" de vegetação
25.Janeiro.2014 - Travessia da Ribeira do Rio Pequeno ... uma das muitas travessias...
Se exceptuarmos as múltiplas travessias da ribeira - que acabam por se transformar em divertidos momentos de brincadeira... - o percurso não oferece qualquer dificuldade. Com pouco mais de duas horas de caminhada, pela bela várzea do Lizandro aproximávamo-nos da Senhora do Ó, ou Senhora do Porto, onde existiu um cais onde se pensa que eram carregadas as embarcações de carvão rumo à capital, justificando o nome da sobranceira povoação da Carvoeira.
Ao longo das várzeas do Rio Pequeno e do Lizandro
Chegada à Senhora do Ó
A capela da Senhora do Ó foi o local escolhido para o reforço alimentar. A chuva miudinha voltou, o grupo recolheu-se como possível nos alpendres da capela. Calças e botas molhadas e enlameadas, sacos de plástico enfiados nalgumas pernas ... mais parecíamos um grupo de indigentes... J

Ponte construída sobre estrutura medieval, na Senhora do Ó, ou Senhora do Porto
Continuando ao longo do Lizandro, o troço final da caminhada levou-nos à estrada Ericeira - Sintra. Cruzado o rio de novo para a margem sul, faltava-nos apenas o troço final da Foz, pelas belas falésias que separam a praia de São Julião da praia da Foz do Lizandro. E que belas panorâmicas do rio e da foz se admiram daquelas falésias.

Da ponte sobre o Lizandro
E ... um guardador da Foz do Lizandro
Falésias e praia, na Foz do Lizandro
A Ericeira estava ao Sol...
Antes das duas e meia da tarde tínhamos completado os previstos pouco mais de 12 km da caminhada, na praia de S. Julião. Para primeira caminhada do ano de 2014 dos Caminheiros Gaspar Correia ... não se pode dizer que não tenha sido divertida... J. O grande oceano estendia-se à nossa frente ... quase nos deixando perceber na neblina o célebre "rei da Ericeira". Mateus Álvares, ermitão em S. Julião e fisicamente parecido com D. Sebastião, acabou por vestir a pele do monarca desaparecido, chegando a organizar corte e a coroar rainha. A nossa caminhada terminou pelos caminhos por onde este falso D. Sebastião da Ericeira terá andado, até ser desbaratado pelos espanhóis...

Arribas da costa oeste, para sul da praia de São Julião da Ericeira

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Por terras do Almonda

Um amigo das lides pedestres publicou há dias numa rede social: "Convite para quinta-feira dia 23 de Janeiro. Longa Rota de 30km, com muitos pontos de interesse: Grutas das Lapas, túneis de arenito, Almonda, rio e nascente, moinhos, Serra d´Aire, Gruta do Almonda". Havendo disponibilidade ... teria de pensar duas vezes?... J.
Serra d'Aire ... aí vamos nós para mais uma bela jornada!
Responderam ao desafio 14 candidatos ... e pouco depois das nove da manhã estávamos a partir junto ao castelo de Torres Novas. O dia ... não poderia ter estado melhor!
Pouco mais de 20 minutos depois da partida estávamos na aldeia de Lapas, cujas grutas constituíam o primeiro motivo de interesse da jornada. As Grutas das Lapas são caracterizadas por formações labirínticas desde sempre dadas a interpretações fantasiosas. As suas origens não são conhecidas, mas alguns estudos datam-nas da época romana. As galerias hoje abertas ao público são apenas parte de uma rede mais vasta, que percorria quase todo o morro onde assenta a povoação. A geologia do solo – calcário mole conhecido por "tufo" – explica a relativa facilidade com que, em tempos, a mão do homem talhou esta singular preciosidade arqueológica.

Grutas das Lapas
O Almonda em Lapas
Mas para além das grutas, Lapas também nos ofereceu as primeiras e belas imagens ribeirinhas do Almonda. Depois ... a caminho da Serra d'Aire. Pelo Alto de Pedrógão e cruzando a Ribeira das Mouriscas, chegámos a Alqueidão ... para o primeiro reforço alimentar... J. A seguir vinha a primeira subida digna desse nome, ganhando belas perspectivas sobre a charneca e os Arrifes do Alqueidão.

Alqueidão ...
... e os Arrifes na Serra
Caminhando agora no sentido nordeste/sudoeste, dirigimo-nos para as nascentes do Almonda. Antes ... fizemos nova paragem para o segundo reforço alimentar no Centro de Interpretação da Gruta ... bem fechado e abandonado, como "mandam as regras" neste país...
Pouco depois das duas e meia da tarde, com 19 km percorridos, estávamos a descer a vertiginosa parede para a nascente do Almonda, nas traseiras da represa criada para abastecer a velha fábrica da Renova e por cima da gruta do Almonda ... onde há mais de 40 anos andei um dia, nos velhos e gloriosos "anos loucos" da Espeleologia e do Mergulho Amador...

Descida para a represa da nascente do Rio Almonda
A Gruta do Almonda desenvolve-se ao longo de mais de 10 km, constituindo um verdadeiro santuário da espeleologia nacional. Representa a mais extensa rede cársica actualmente conhecida em Portugal, composta de várias ribeiras subterrâneas que dão origem ao Almonda.

Represa nas traseiras da velha fábrica da Renova, nas nascentes do Almonda
E a jornada prosseguiria pelo Vale das Sesmarias e Casal da Pinheira, rumo a Ribeira Branca, de novo junto ao Almonda e onde fizemos um pequeno percurso de ida e volta até ao que resta do velho Moinho do Pego.

Cruzando o Almonda, próximo de Casal da Pinheira

O Almonda em Ribeira Branca
Ruínas do Moinho do Pego
De Ribeira Branca ao final levámos pouco mais de 50 minutos ... e às cinco e meia estávamos de regresso a Torres Novas, fazendo questão de terminar a jornada contornando o Castelo ... para a foto de grupo com que terminaríamos este belo dia de uma caminhada intensa, feita ao bom ritmo de quase 5 km/h de média em andamento. Obrigado, companheiros!

Castelo de Torres Novas à vista, 17:30h, com quase 31 km nos pés... J
Torres Novas ... e o Almonda
E terminámos mais uma bela e intensa jornada...
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domingo, 19 de janeiro de 2014

Pela Serra do Funchal e Vale das Andorinhas

Próximo da Malveira e da Venda do Pinheiro, a Serra do Funchal e os montes que rodeiam o lugar de Vale das Andorinhas resultaram na sua maioria de antigos vulcões do complexo vulcânico de Lisboa. Proporcionam paisagens únicas sobre a região saloia, com vistas para a Serra de Sintra, Cabeço de Montachique, forte do Alqueidão, zona urbana da Malveira e Venda do Pinheiro.
Avessada, 19.Jan.2014, 9:15h
Para este domingo, os "Novos Trilhos" tinham agendada uma caminhada que, pela irregularidade destas elevações, se tornaria naturalmente exigente do ponto de vista de desníveis acumulados, constituindo um belo desafio ... para uma verdadeira montanha russa pedestre...J!
Antes das nove da manhã, cerca de quarenta "aventureiros" estavam assim na aldeia de Avessada, prontos para iniciarem uma jornada de cerca de 20 km de sobe e desce ... que terminaria com o almoço festivo dos dois anos do grupo...J!
Ao longo dos montes e vales da região saloia
À conquista do geodésico da Atalaia (431m alt.)
Ao fundo, à esquerda, a Serra de Sintra
Remando num mar de verde...
Com alguns aguaceiros à mistura, a jornada proporcionou uma muito agradável abordagem destes montes e vales saloios, para além, como sempre, do convívio e das brincadeiras que fazem de cada caminhada uma excelente terapia contra o stress...J!

A linha do Oeste corre no vale. Até quando vamos ver comboios nesta linha?...
E lá ao fundo está o mar...
Avessada à vista, com quase 20 km percorridos
Ao longo do percurso houve duas pequenas paragens para reforço alimentar ... e pouco depois das três da tarde estávamos de regresso à Avessada ... onde a caminhada prosseguiu à volta da mesa...J! Os "Novos Trilhos" comemoravam a entrada no seu 3º ano de actividades. Pela parte do autor destas linhas, esta foi apenas a sétima caminhada "novostrilheira", desde a "estreia" na "maratona" Óbidos- Torres Vedras, há quase um ano. Muito longe estava, portanto ... de vir a receber um "Diploma", certificando os 282 km feitos, em 2013, com este magnífico grupo. Parabéns, "Novos Trilhos"!


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