quarta-feira, 24 de agosto de 2011

No Cabeço Melhano e nas Fontes Lares,
com três filhos da raia

Com um primo "brasileiro" nascido em Vale de Espinho e outros dois filhos da raia, participei hoje numa "peregrinação" à Serra de Aldeia Velha, ou do Homem de Pedra, como é conhecida a serra a norte de Vale de Espinho. Para o primo, radicado no Brasil, foi uma romagem nostálgica a alguns lugares da sua juventude.  Quanto a mim,  não fui conhecer nenhum local que não conhecesse,  mas  a  compa-
24.08 - Rumo à Serra de Aldeia Velha
nhia, principalmente de um dos outros dois filhos da raia, proporcionou-me ouvir histórias e vivências, contadas ao sabor do andamento, testemunhos de uma vida ligada ao contrabando, aos trabalhos nos campos, às gentes que, há décadas atrás, davam vida a estas serras e campos.
Saímos de Vale de Espinho pelo Areeiro e Có Pequena. Numa hora exacta, subimos os quase 5 km até ao Cabeço Melhano, a 1146 metros de altitude, vencendo os quase 250 metros de desnível. A idade não roubou a genica a estes trepadores da serra, para quem as velhas bredas continuam a ser velhas irmãs e mães.
Cabeço Melhano
Citando Leal Freire:
Corri à guisa do vento
Ao certo nem sei as léguas
Se a rota é mesmo a contento
As pernas não pedem tréguas


Manuel Leal Freire, "A Ceia do Lavrador"
E no topo do Melhano, dominávamos tudo em redor: ao fundo, a Serra da Estrela e a Guarda, altaneira. Aos nossos pés, Aldeia Velha e as restantes aldeias do Sabugal e de Almeida, a raia ribacudana. Para leste, distantes, as alturas da Penha de França e, mais perto, da Gata. Mas, quais gigantes de uma época de massificação, as torres eólicas proliferam na cumeada do Homem de Pedra ao Melhano, sinais de um progresso duvidoso, lançadas nos pregões de uma energia supostamente limpa.
Depois do Melhano, ante os olhos um pouco atónitos dos meus companheiros ... fui eu o "guia". Descemos à quinta do Lameirão e, por matos e bredas abandonadas ... às "minhas" Fontes Lares. Como já escrevi noutras entradas deste blog, as Fontes Lares são um local "de culto", onde normalmente só levo familiares ligados àquele lugar "sagrado". Mas, precisamente, o primo "brasileiro" queria reviver a fontinha, a pequena nascente entre barrocos; a presa que tantos lameiros regou; o que resta da velha casa; e, claro, o barroco "sagrado". E ali nos detivemos um pouco, ora em silêncio, ora recordando lembranças vindas do fundo das memórias.

"As pernas não pedem tréguas"...
Fontes Lares: no barroco "sagrado"
Fontes Lares: ruínas da velha casa
Fontes Lares: água sagrada
Saímos das Fontes Lares em direcção às Guizias, mas inflectindo depois para SW, em direcção aos "quatro caminhos" e aos Nheres (designação popular dos Linhares). Passado o ribeiro da Presa, antes das onze horas estávamos em Vale de Espinho, com o sabor de uma bela caminhada e das boas horas de convívio e troca de experiências e vivências.

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